Fazenda onde nasceu o blogueiro. Foto Luis Fernando Gomes

Fazenda onde nasceu o blogueiro. Foto Luis Fernando Gomes
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segunda-feira, 29 de dezembro de 2014

Todos nós tememos a felicidade. E a sabotamos.

Não fugindo da ideia de Final de Ano e promessas de mudança, vi esta entrevista de Flávio Gikovate,
um autor que gosto muito e de quem  tenho três livros na minha estante.

Com mais de 45 anos de carreira, o psiquiatra e psicoterapeuta Flávio Gikovate, de São Paulo (SP), já atendeu mais de 9.000 pacientes. Esse número, segundo ele, se estende a 20.000, se forem contabilizados os ouvintes que têm suas dúvidas respondidas no programa "No Divã do Gikovate", que vai ao ar aos domingos, às 21h, na rádio CBN.
A experiência lhe rendeu a convicção de que todo mundo teme a felicidade e costuma sabotá-la. Autor de mais 30 livros, Gikovate lançou, recentemente, "Mudar – Caminhos para a Transformação Verdadeira" (MG Editores), no qual aborda a dificuldade de abandonar hábitos –entre os quais aqueles que nos impedem de alcançar objetivos– e a importância do autoconhecimento para mudar atitudes e pensamentos.
Em entrevista ao UOL Comportamento, o psiquiatra esmiúça os mecanismos do medo, que paralisa as conquistas, e fala como é possível modificar o modo de agir.

UOL: Você costuma dizer que todo mundo tem medo da felicidade. Por que uma estimativa tão alta?
Flávio Gikovate: Porque esse medo tem relação com o que nos aconteceu no ato de nascer, pelo qual todos passamos: estávamos em harmonia no útero, uma espécie de "paraíso", e dali fomos expulsos na hora do parto. Assim, nascer é uma transição para pior, pois passamos a estar expostos a dores, sensações de desamparo. Parece que se forma um tipo de condicionamento: sempre que estamos próximos de um estado de harmonia e felicidade, tememos o risco de uma nova ruptura, agora a da morte ou da perda de pessoas amadas.

Parece que o risco de tragédia aumenta quando estamos próximos da felicidade, o que não é fato, mas é como sentimos. Aliás, todo pensamento supersticioso tem a ver com isso: quando estamos bem, batemos na madeira para afastar os maus fluidos. Assim, o medo da felicidade é, de fato, o medo de perder a felicidade e o que temos de melhor, como se esse risco aumentasse à medida que nos aproximamos da harmonia.

UOL: O medo tem a ver com o receio da mudança e a dificuldade em abandonar hábitos antigos? Isso significa que somos comodistas por natureza?
Gikovate: Podemos ter medo de mudanças, mas isso não está relacionado apenas com o medo da felicidade. Abandonar hábitos antigos quase sempre implica a perda de um padrão de comportamento que também nos traz algum alívio para a ansiedade ou depressão.

Mesmo os mais inesperados, como automutilação, parecem ter a ver com a redução da ansiedade. Quem rói as unhas, por exemplo, sabe muito bem que esse ato funciona como ansiolítico. Não somos comodistas por natureza, mas temos medo do sofrimento e nos afastamos dos hábitos, compulsões e vícios que tanto nos confortam quando as perdas passam a ser maiores do que os ganhos. Talvez sejamos "matemáticos" por natureza.

UOL: Podemos dizer que o medo provoca uma espécie de autossabotagem? 
Gikovate: Sabotamos a nós mesmos quando chegamos perto de atingir nossos desejos. Um bom exemplo é o do emagrecimento: quando o regime alimentar é bem-sucedido e a pessoa está chegando à silhueta desejada, surge uma tendência forte para que ela relaxe e volte a comer demais, recuperando o peso perdido. A autossabotagem faz parte do medo do sucesso, que é uma das versões do mesmo medo da felicidade. Quando as coisas vão bem, sentimos medo em vez de gratidão.

UOL: Ao longo da vida ficamos mais medrosos? Ao alcançarmos objetivos, o medo se torna mais presente? Por exemplo: medo de morrer depois de ter filhos ou de voar de avião depois de agendar a viagem dos sonhos.
Gikovate: Não é que vamos ficando com mais medo. Ficamos mais próximos da felicidade que sonhamos e, aí, temos a sensação que ela atrai uma tragédia iminente. Temos a impressão de que o avião cai com mais facilidade quando vamos fazer a viagem dos sonhos do que quando estamos indo para um evento triste: um funeral, por exemplo. E isso não é verdadeiro. Porém, é como sentimos em função do reflexo condicionado que se estabeleceu a partir do "trauma do nascimento", expressão que é o título de um livro do psicanalista austríaco Otto Rank (1884-1939).

UOL: O medo também tem a ver com crenças limitadoras? Quais?
Gikovate: O medo é parte dos processos instintivos relacionados com a autopreservação, com os cuidados que devemos ter para nos defendermos de perigos reais. No passado, animais perigosos; no presente, ser atropelado, por exemplo. Acontece que, pela via dos reflexos condicionados e em decorrência de determinadas vivências traumáticas, desenvolvemos medos de situações que não são tão perigosas, como é o caso do avião. Chamamos isso de "fobias": medo daquilo que não deveria, em condições normais, nos assustar. Medo de leão é medo justo; medo de barata é fobia. Nosso psiquismo é extraordinário e nos ajuda em muitos aspectos, porém, pode nos perturbar.

UOL: O medo de errar é um dos piores medos?
Gikovate: Sim. É muito ruim porque acovarda a pessoa e a impede de experimentar o que é novo. O risco de erro está presente em todo experimento, mas ele corresponde ao mesmo caminho que nos leva a acertar, a avançar e progredir. Aprendemos com os erros e com os acertos. Quem não arrisca, fica estagnado. A boa tolerância a frustrações e contrariedades, a chamada boa resiliência, é condição fundamental para o crescimento pessoal, profissional, sentimental e moral de todos nós.

UOL: Falar que os outros colocam olho gordo nas nossas conquistas é uma maneira de, se as coisas derem errado, atribuir a culpa a terceiros?
Gikovate: É um processo de projeção: atribuímos a outra pessoa uma parte da nossa própria subjetividade. Temos, dentro de nós, forças construtivas e destrutivas. Essas últimas se ativam mais quando estamos muito felizes. É fato, também, que a felicidade pode incomodar a um bom número de pessoas que, por comparação, se sentirão por baixo, revoltadas com a hostilidade sutil típica da inveja. Porém, penso que os atos destrutivos que costumamos praticar são da nossa própria autoria e existiriam da mesma forma se não houvesse a inveja. E como ela coexiste com nossos bons momentos, podemos, facilmente, atribuir a ela um processo que nos pertence.

UOL: Para mudar hábitos e a si mesmo, o que é mais importante? Foco, disciplina ou não se abater pelas recaídas?
Gikovate: Tudo é importante e muito difícil. É preciso foco, disciplina e boa tolerância aos fracassos. Muitas pessoas não têm essa tolerância. Para elas, mudar é ainda mais difícil. É preciso se empenhar e conhecer o melhor possível a si mesmo, seus sentimentos e emoções, mesmo os nobres, e como funciona sua mente. Convém que saibamos quais os nossos pontos fracos e quais são nossos dons maiores.

Depois de tudo, saber muito bem o que se quer mudar, para onde mudar. Aí, se faz um plano, um projeto e, o mais importante: temos que tratar de executá-lo. As mudanças só acontecem quando abandonamos a teoria e partimos para a ação. Ninguém se cura do medo de avião em um consultório; nele se conversa sobre porque ele surgiu e como enfrentá-lo. Mas a pessoa terá que entrar no avião, sofrer os medos correspondentes e, aos poucos, ir se livrando desse tipo de condicionamento psíquico nocivo. Tudo tem que acontecer aos poucos, com firmeza e paciência, porque esses processos podem durar mais do que gostaríamos. É muito raro que uma pessoa consiga mudar de um dia para o outro.
UOL: Todo mundo é capaz de mudar?
Gikovate: Quase todo mundo. Existem algumas pessoas por demais intolerantes a sofrimento e dor que não conseguem nem se imaginar em situações em que terão de enfrentar adversidades. Essas não mudam.

UOL: Como criar filhos mais corajosos para a vida? O que os pais devem evitar para que as crianças não sejam ou se tornem medrosas?
Gikovate: A intensidade do medo é, segundo acredito, um atributo inato, variável de pessoa para pessoa. Os pais têm que ajudar as crianças a desenvolver a coragem, ou seja, a força racional necessária para que os medos irracionais sejam enfrentados. Isso se consegue em parte pelo exemplo e, em parte, estimulando as crianças a vivenciarem dificuldades, dores, adversidades inerentes à nossa condição.

Nada de superprotegê-las, pois isso as enfraquece. Todos têm de aprender a lidar com docilidade com as contrariedades e frustrações próprias da vida. Isso é mais fácil para os que já nascem mais condescendentes e mais difícil para os mais revoltados. Porém, todos têm de chegar lá, pois a vida não irá poupar uma pessoa apenas porque ela blasfema e grita quando contrariada.

sexta-feira, 26 de dezembro de 2014

Por que irmãos são tão diferentes ainda que recebendo a mesma educação?

Foi em "Freakonomics" que li algo bem marcante quanto à educação familiar. As influências maiores se dão no âmbito extra-familiar. Agora, lendo este texto, as coisas ficam mais claras. Por que irmãos são tão diferentes uns dos outros?




Heloísa  Noronha.
Do UOL, em São Paulo.

Além da criação, muitos fatores influenciam na formação de um indivíduo.
Os mesmos pais, passeios, brinquedos, escolas, pratos, valores, regras. Se o modo de educar é tão fundamental na formação de um indivíduo, por que filhos criados da mesma forma acabam se tornando diferentes –às vezes, opostos– uns dos outros, principalmente, na idade adulta?
Nem sempre essas diferenças dizem respeito apenas ao temperamento ou à personalidade, mas ao caráter. O que houve no meio do caminho para que irmãos se transformassem em pessoas com pouca ou nenhuma semelhança com a família de origem? Trata-se de uma questão que tem sido motivo de muitas pesquisas não só em psicologia, como, também, nas áreas de antropologia e ciências sociais.
Acontece que a educação dada pelos pais não é o único fator que molda uma pessoa. "Embora a família ainda seja o elemento de maior influência no comportamento de uma criança, o código genético do qual somos formados ainda é um grande mistério. E a maneira com que cada um compreende e interpreta as coisas que estão à sua volta é única", diz Maria Aparecida Belintane Fermiano, pedagoga e pesquisadora do Laboratório de Psicologia Genética da FE/Unicamp (Faculdade de Educação da Universidade Estadual de Campinas).
A percepção de cada filho sobre a realidade é diferente por conta de processos intrapsíquicos (que acontecem na mente e iniciam a partir do nascimento), que se desenvolvem a partir de experiências e estímulos. Esse mecanismo nos faz interpretar os fatos de forma particular: uma viagem de férias ou uma comemoração familiar, por exemplo, será encarada de modo distinto entre irmãos.
"A ideia da igualdade é mais uma defesa do ser humano para lidar com a difícil questão de respeitar as diferenças e conviver com o diferente. A educação familiar, mesmo que pautada nos mesmos princípios, será sempre única para os indivíduos. Cada ser é único em sua relação com o todo, com a vida e com sua história familiar. Daí as diferenças serem absolutamente possíveis, e não apenas decorrente de questões familiares", fala a psicóloga e analista junguiana Suely Engelhard, da ATF-RJ (Associação de Terapia Familiar do Rio de Janeiro).
As diferenças ficam mais perceptíveis à medida que as crianças vão crescendo. Ao observar dois irmãos que chegam à adolescência, por exemplo, é natural notar que lidam com conflitos e situações de modo diferente. Por exemplo: um é fechado, porque acha que nunca foi ouvido, e o outro é mais comunicativo, por acreditar que o diálogo sempre fez parte do meio familiar.
Mais um caso é o de irmãos com desempenhos escolares discrepantes: um é excelente aluno, mas o outro não quer saber de estudar. "Não conseguimos medir o que os outros sentem. Inúmeros são os fatores que fazem com que uma pessoa pense assim ou 'assado'. Quem sabe se o que não estuda não o faz porque tem medo de não ser tão bom quanto o outro? Ou porque escutou os pais elogiando o irmão e se ressentiu?", exemplifica Maria Belintane.
Ordem de nascimento
Eis um ponto importante: embora os pais acreditem que estão dando o mesmo tipo de educação aos filhos, na prática, não é bem isso que acontece. Primeiro: cada um sente o afeto de um jeito. E, depois, porque afinidades, temperamento, gênero e idade regem as relações. Existe uma corrente que prega que a ordem de nascimento dos irmãos acaba demarcando a função de cada um na dinâmica familiar –e influenciando na personalidade e nas escolhas futuras.
O maior defensor dessa teoria, acolhida por muitos estudiosos em comportamento humano, é o psicólogo Kevin Leman, autor do livro "Mais Velho, do Meio Ou Caçula - A Ordem do Nascimento Revela Quem Você É" (Mundo Cristão). Ideias semelhantes foram apresentadas por seu colega de profissão Frank J. Sulloway, ambos dos Estados Unidos, em "Born to Rebel: Birth Order, Family Dynamics and Creative Lives" (em tradução livre, "Nascido para Se Rebelar: Ordem de Nascimento, Dinâmica Familiar e Vidas Criativas").
Para a psicóloga e terapeuta familiar Mara Lins, diretora científica do Cefipoa (Centro de Estudos da Família e do Indivíduo de Porto Alegre), o conceito faz sentido. "O primogênito costuma receber uma carga maior de expectativas por parte dos pais, pois é ele que, de certa forma, 'inaugura' a família. O caçula encerra esse ciclo e é mais mimado, pois, provavelmente, será o último a deixar a casa dos pais, marcando o surgimento do ninho vazio. Os filhos do meio, em geral, se tornam pessoas muito populares e queridas, pois tiveram de desenvolver recursos para chamar a atenção dos pais e se destacar no lar", explica.
De acordo com Sonia Maria Giacomini, coordenadora do programa de pós-graduação em Ciências Sociais da PUC-Rio (Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro), o momento de vida em que o casal gerou cada filho também é determinante para as diferenças futuras. 
"Tudo deve ser levado em consideração: se as crianças foram planejadas ou não, se o casamento atravessa uma fase harmoniosa, a situação profissional e financeira dos pais, as circunstâncias que permearam a gravidez e o parto e até os sonhos e desejos da família. São fatores que ajudam a escrever a biografia de uma pessoa", diz.
Amigos, professores e outras influências
Conforme as crianças vão crescendo, outros fatores são acrescentados à formação: amizades, relacionamento com professores e avós, experiências, doenças. "Isso tudo faz com que um desafio, por exemplo, seja interpretado de modo diferente por irmãos, apesar de terem recebido as mesmas orientações para lidar com ele", fala Sonia Giacomini.
Uma explicação para que os valores dos filhos nem sempre se assemelharem aos dos pais é o fato de terem nascido em épocas diferentes, cujos contextos econômico, social e político influenciaram sua maneira de ser e a dinâmica do lar.
Uma vez que os filhos têm suas singularidades, o ideal seria não criá-los de maneira igual. "Temos de entender que eles precisam ser amados na mesma intensidade, mas não de modo igual, pois são pessoas diferentes. Cada um tem aspectos positivos e negativos distintos. É um equívoco compará-los, pois quando os pais fazem isso, eles aprendem a comparar o amor recebido e nunca, na opinião deles, serão amados tanto quanto o outro", afirma a pedagoga Maria Belintane.
O mais saudável, de acordo com os especialistas consultados, é se esforçar para administrar as diferenças, sem tentar padronizar os filhos ou forçar afinidades, sempre respeitando as particularidades de cada um.


segunda-feira, 22 de dezembro de 2014

Como Passar o Natal Sozinho.


Natal e festas de fim de ano são péssimos momentos para quem está sozinho, ou rompeu algum relacionamento e ou perdeu um parente querido. Dias onde há um grande número de suicídios.
Talvez uma das possibilidades de não sofrer muito nestes momentos  seja a de não valorizá-los exageradamente. Relativize-os. Afinal, Natal é a comemoração do nascimento de alguém há mais de dois mil anos e que talvez você nem acredite nele. Nunca o viu. Não foram amigos e nem conhecidos. E nem estava no seu facebook. Então, para que este auê todo? Bobagem. Se você acredita que o Menino que nasceu é Deus, vivencie o Natal à moda antiga: com reflexão, meditação, orações e recolhimento.
Ano Novo? Que história mais boba.”Anos” são símbolos. E antigamente “ano novo” era comemorado em outras datas. Outros povos tem outros dias. Vai sofrer por causa disto? “Me poupe”, como me dizia uma loura estagiária dos velhos tempos de empresa.
E tem mais: não quer dizer que todos os futuros natais serão deste jeito. Podem ser piores (então, já está se preparando). Ou melhores (oba, oba... mas calma).
Mas, não podemos evitar a situação: gente sozinha e o Natal.
Este texto, que  traduzi, li em “The art of non conformity” e  talvez ajude.

Eu me lembro do Natal como o dia que eu me dedicava totalmente a mim mesmo.
Estratégia nº 1: Deitar o m ais cedo possível (vale uma ajuda de taça de vinho ou um rivotrilzinho e... levantar o mais tarde possível. 
Estratégia nº 2: Encher todo o dia com tantas coisas para ocupar minha mente sem me sentir solitário. Um café da manhã caprichadíssimo, preparar um almocinho. Se tiver cinema, ir. Parque, também. Fazer caminhada e suar. Pegue uns loivros antigos para ler.
Não trabalhava, pelo menos não completamente. Sentia-me triste e deprimido na maior parte do dia. Focava então na tentativa de superar esta situação e continuar vivendo, acreditando que os próximos anos seriam melhores.
Não precisa ser assim, claro. Você pode ter um dia maravilhoso, sozinho. Faça uma viagem, sozinho, vá a um bom restaurante também sozinho, tome um vinho sem ter ninguém ao lado dizendo: nossa, você bebe, hein, e aproveite a oportunidade de refletir sem aquela barulheira toda.
Bem, algumas vezes você estará sozinho enquanto todo mundo está comemorando, trocando presentes, ceiando com a família e você não consegue evitar a tristeza. Nenhum “ei, ânimo” vai ajudar. Você vai ter que passar por isto.
Se você estiver sozinho neste Natal, provavelmente você não será o único. Mas lembre-se de uma frase que você já pode ter ouvido: “calma, a vida é dura; todos passam por maus momentos.”

P.S.  Este “tome um vinho sem ter ninguém ao lado dizendo: nossa, você bebe” é de minha autoria.

quinta-feira, 18 de dezembro de 2014

Síndrome do brinquedo alheio. Isto é, inveja.

Não sou de dar muita importância a datas comemorativas, sobretudo se tiverem forte apelo comercial. Mas você também não pode fugir delas. Assim é com o Natal e Ano Novo. Repensar como estamos vivendo nossa vidinha é algo elogiável. Então vejamos esta postagem
Pequeno Guru é um site onde se apresentam textos muito bons. Não sei quem é o criador. Mas com freqüência aproveito idéias deles e coloco aqui para o deleite de meus leitores. O de hoje serve como reflexão para nós que vivemos no mundo capitalista. E graças a “Deus”. 

"Dizem que a grama do vizinho é sempre mais verde. Mas olhe-a de perto e você verá falhas, partes onde a grama não cresce nunca ou cresce rápido demais e formigueiros escondidos. Em algum momento de nossas vidas (quem sabe da evolução humana), fomos programados para prestar atenção no jardim do vizinho, no carro do chefe e no novo namorado da fulana que recém se separou. E não apenas “prestamos atenção”, interagimos quase como se fosse um reality show. Apresentamos traços assim desde a infância, quando levamos um boneco Man Steel que acende, atira, anda e come sozinho, mas queremos o soldadinho de plástico do nosso amiguinho. A partir daí, a “síndrome do brinquedo alheio” nunca mais nos abandona. Trocam-se os brinquedos por outros, digamos, mais adultos, mas a vontade de ter o que o outro tem continua.
O ser humano tem um grande problema de apreciar o que o outro tem. Ao menos em parte, isso se explica porque todos nós temos sede por coisas novas. Para alguns felizardos, essa novidade vem em forma de conhecimento, habilidades, livros, viagens e culturas diferentes. Para outros — a maioria — são produtos eletrônicos, bolsas, carros, parceiros diferentes e por aí vai. Felizmente, temos a liberdade para guiar a vida como bem entendemos e cada um pode escolher fazer o que o deixa mais feliz. O problema é quando é quando isso não deixa, e os momentos felizes são com base em outras pessoas que não você. Quando se olha demais para o jardim do outro sem perceber que a sua grama está na altura do joelho.
Quando a felicidade está  em coisas e não em experiências e crescimento, é porque estamos olhando mais para o outro do que para nós mesmos. As pessoas desejam carros de luxo não pelo conforto e potência (qualidade),  mas pelo estilo de vida (marca e valores) associados a eles. Em outras palavras, as pessoas querem ter aquela vida. Quanto mais pessoas estão consumindo algo, mais pessoas irão querer esse algo. Essa é a base do mundo capitalista e um comportamento que muito vem sendo estudado depois que as redes sociais colocaram os holofotes em mais de 1 bilhão de pessoas revelando seus hábitos e comportamentos.
E o que era para aproximar pessoas, as deixaram mais tristes, egocêntricas e mesquinhas. A tecnologia tornou mais fácil comparar e, ao comparar, elas percebem que tem sempre alguém  fazendo o que elas gostariam de fazer. Automaticamente, comparamos as nossas vidas com as de ex-colegas, amigos de infância e parentes da mesma faixa etária e se a diferença é muito grande, ficamos tristes ou orgulhosos. Lembrei de um estudo em que as pessoas mais felizes eram aquelas que tinham maior poder aquisitivo em seus círculos sociais, não aquelas que ganhavam mais, porém menos se comparado com os outros. É preciso lutar contra essa tendência natural. Porque sempre, sempre irá existir alguém em uma posição melhor do que você. Desejos não têm fim. Compre uma casa e você irá querer outra na praia. Conquiste uma vida financeira confortável e você irá querer ser milionário. Abra uma loja e você logo sonhará com uma lucrativa rede de franquias. A vida é repleta de desafios e desafios também costumam não ter fim. Essa é a parte boa: o ser humano precisa dessa motivação para continuar vivendo. O problema está em  viver as motivações dos outros.
Somos tão influenciados pelo mundo que vivemos que, não raro, pessoas deixam-se levar por essas influências — e o pior, sem perceber. As pessoas vestem o que todo mundo veste e, se ninguém veste, tem algo de errado aí. Faz sentido. O mesmo sentido que leva empresas a operarem da mesma maneira, fazendo as mesmas coisas que todas as outras. Então, uma resolve fugir da fila indiana e fazer algo diferente que dá certo, e todas resolvem ir atrás. O mundo é uma grande fila indiana onde de tempos em tempos alguém resolve sair da fila e fazer diferente.
Fazer diferente é para poucos. Para fazer diferente é preciso parar de observar o jardim do vizinho. É preciso olhar milhares de outros jardins em centenas de outros bairros do mundo, ler revistas de jardinagem, fazer cursos, tentar e errar, e errar até acertar. Quem olha demais para o brinquedo do colega jamais se contentará com o seu, mesmo que superior, porque não se trata de qualidade, e sim de querer ter o inacessível. Alguém uma vez disse que a grama é mais verde onde se rega. E só é possível regar o que está ao nosso alcance. Aqui cabe  outro famoso ditado popular: “não dê um passo maior que a perna” porque você sabe o que acontece.





segunda-feira, 15 de dezembro de 2014

"Meio intelectual e meio esquerda". Crônica irônica sarcástica.

Estava bucolicamente degustando dos queijos finos em Andrelândia, quando ele, leitor inveterado carregando debaixo do braço "O Cemitério de Praga", de Umberto Eco (frustrante para mim, falando a verdade), me falou de Antônio Prata, filho de meu xará famoso, Mário Prata. E da crônica com o título acima. Mas quem é este sujeito? Descubra e leia o texto.

Antonio Prata (São Paulo24 de agosto de 1977) é um escritor e roteirista brasileiro.
Filho dos também escritores Mário Prata e Marta Góes, cursou Filosofia (na USP), Cinema (FAAP) e Ciências Sociais(PUC-SP), mas não chegou a concluir nenhuma das faculdades. Por estar confuso: que carreira seguir?
Escreve aos domingos no caderno Cotidiano da Folha de São Paulo e é roteirista contratado pela Rede Globo, onde colaborou na novela Avenida-Brasil, de João Emanuel Carneiro.
Escreveu crônicas para a revista Capricho entre 2001 e 2008  e também para o jornal O Estado de São Paulo, entre 2003 e 2009
Foi um dos 16 participantes do projeto Amores Expressos, passando um mês em Xangai para escrever um romance, até hoje não publicado .
Em novembro de 2013, publicou o livro de crônicas semi-memorialísticas Nu, de botas, pela editora Companhia das Letras.
Eis a crônica:
Eu sou meio intelectual, meio de esquerda, por isso freqüento bares meio ruins. Não sei se você sabe, mas nós, meio intelectuais, meio de esquerda, nos julgamos a vanguarda do proletariado, há mais de cento e cinqüenta anos. (Deve ter alguma coisa de errado com uma vanguarda de mais de cento e cinqüenta anos, mas tudo bem).
No bar ruim que ando freqüentando ultimamente o proletariado atende por Betão – é o garçom, que cumprimento com um tapinha nas costas, acreditando resolver aí quinhentos anos de história.
Nós, meio intelectuais, meio de esquerda, adoramos ficar “amigos” do garçom, com quem falamos sobre futebol enquanto nossos amigos não chegam para falarmos de literatura.
– Ô Betão, traz mais uma pra a gente – eu digo, com os cotovelos apoiados na mesa bamba de lata, e me sinto parte dessa coisa linda que é o Brasil.
Nós, meio intelectuais, meio de esquerda, adoramos fazer parte dessa coisa linda que é o Brasil, por isso vamos a bares ruins, que têm mais a cara do Brasil que os bares bons, onde se serve petit gâteau e não tem frango à passarinho ou carne-de-sol com macaxeira, que são os pratos tradicionais da nossa cozinha. Se bem que nós, meio intelectuais, meio de esquerda, quando convidamos uma moça para sair pela primeira vez, atacamos mais de petit gâteau do que de frango à passarinho, porque a gente gosta do Brasil e tal, mas na hora do vamos ver uma europazinha bem que ajuda.
Nós, meio intelectuais, meio de esquerda, gostamos do Brasil, mas muito bem diagramado. Não é qualquer Brasil. Assim como não é qualquer bar ruim. Tem que ser um bar ruim autêntico, um boteco, com mesa de lata, copo americano e, se tiver porção de carne-de-sol, uma lágrima imediatamente desponta em nossos olhos, meio de canto, meio escondida. Quando um de nós, meio intelectual, meio de esquerda, descobre um novo bar ruim que nenhum outro meio intelectuais, meio de esquerda, freqüenta, não nos contemos: ligamos pra turma inteira de meio intelectuais, meio de esquerda e decretamos que aquele lá é o nosso novo bar ruim.
O problema é que aos poucos o bar ruim vai se tornando cult, vai sendo freqüentado por vários meio intelectuais, meio de esquerda e universitárias mais ou menos gostosas. Até que uma hora sai na Vejinha como ponto freqüentado por artistas, cineastas e universitários e, um belo dia, a gente chega no bar ruim e tá cheio de gente que não é nem meio intelectual nem meio de esquerda e foi lá para ver se tem mesmo artistas, cineastas e, principalmente, universitárias mais ou menos gostosas. Aí a gente diz: eu gostava disso aqui antes, quando só vinha a minha turma de meio intelectuais, meio de esquerda, as universitárias mais ou menos gostosas e uns velhos bêbados que jogavam dominó. Porque nós, meio intelectuais, meio de esquerda, adoramos dizer que freqüentávamos o bar antes de ele ficar famoso, íamos a tal praia antes de ela encher de gente, ouvíamos a banda antes de tocar na MTV. Nós gostamos dos pobres que estavam na praia antes, uns pobres que sabem subir em coqueiro e usam sandália de couro, isso a gente acha lindo, mas a gente detesta os pobres que chegam depois, de Chevette e chinelo Rider. Esse pobre não, a gente gosta do pobre autêntico, do Brasil autêntico. E a gente abomina a Vejinha, abomina mesmo, acima de tudo.
Os donos dos bares ruins que a gente freqüenta se dividem em dois tipos: os que entendem a gente e os que não entendem. Os que entendem percebem qual é a nossa, mantêm o bar autenticamente ruim, chamam uns primos do cunhado para tocar samba de roda toda sexta-feira, introduzem bolinho de bacalhau no cardápio e aumentam cinqüenta por cento o preço de tudo. (Eles sacam que nós, meio intelectuais, meio de esquerda, somos meio bem de vida e nos dispomos a pagar caro por aquilo que tem cara de barato). Os donos que não entendem qual é a nossa, diante da invasão, trocam as mesas de lata por umas de fórmica imitando mármore, azulejam a parede e põem um som estéreo tocando reggae. Aí eles se dão mal, porque a gente odeia isso, a gente gosta, como já disse algumas vezes, é daquela coisa autêntica, tão Brasil, tão raiz.
Não pense que é fácil ser meio intelectual, meio de esquerda em nosso país. A cada dia está mais difícil encontrar bares ruins do jeito que a gente gosta, os pobres estão todos de chinelos Rider e a Vejinha sempre alerta, pronta para encher nossos bares ruins de gente jovem e bonita e a difundir o petit gâteau pelos quatro cantos do globo. Para desespero dos meio intelectuais, meio de esquerda que, como eu, por questões ideológicas, preferem frango à passarinho e carne-de-sol com macaxeira (que é a mesma coisa que mandioca, mas é como se diz lá no Nordeste, e nós, meio intelectuais, meio de esquerda, achamos que o Nordeste é muito mais autêntico que o Sudeste e preferimos esse termo, macaxeira, que é bem mais assim Câmara Cascudo, saca?).
– Ô Betão, vê uma cachaça aqui pra mim. De Salinas quais que tem?

sexta-feira, 12 de dezembro de 2014

10 coisas que você deve fazer antes dos 30 anos.

Já postei textos para pais e avós. Agora para os mais novos. Eu costumo dizer uma frase extra além destas dez para quem tem menos de 30 anos: saia do Brasil. Mas o Pequeno Guru, de onde extraí o artigo, é mais suave.
Um livro lido há muitos e muitos  anos tocava nesta ideia: A Vida não tem manual de instrução. Assim sendo quem sabe estas dicas ajudariam? Ou pelo menos para convencer os pais.

"Os trinta anos costumam representar um marco na vida. O primeiro  da vida adulta em que se faz uma análise retroativa para avaliar como foram as coisas até então. Alguns choram, outros se sentem felizes com o que conquistaram, mas todos tiram algum momento para refletir. Principalmente, porque a última década deve ter sido inesquecível, cheia de histórias, descobertas, agito e novos problemas da vida.
Chega um momento na vida em que é preciso desacelerar para assumir as responsabilidades — e esse momento costuma acontecer por volta dos 30. Não é saudável ver os 20 anos como os melhores da vida, mas ele funciona como um divisor de águas, exercendo grande influência nas décadas que virão. Negligencie aqui e você pagará por muitos anos (como casar cedo ou demorar a constituir carreira).
Há uma série de coisas que você deverá ter feito ao chegar aos 30. Na minha opinião, há 10 dessas coisas que estão no topo de todas as outras, afetando de forma profunda e ampla toda a sua vida, proporcionando lições que irão prepara-lo para o futuro. Além disso, tempo e oportunidade ficarão cada vez mais escassos.
1. Morar sozinho
No livro “Desperte para a Vida”, o pai de Bill Gates revela que desde cedo deixou seu filho acampar sozinho com os amigos ou clube de escoteiros. Durante toda a adolescência, Bill Gates passou o final de semana fora de casa e das asas dos pais. É possível creditar parte do sucesso norte-americano à cultura livre e desprendida que as pessoas têm por lá. Desde cedo, pais se preparam para deixar seus filhos saírem de casa aos 17, enquanto os jovens se deparam com a necessidade de equilibrar juventude e estudos, responsabilidades e diversão. Talvez a maioria demore a entrar na linha, mas é certo que uma hora eles entram, e isso acontece no momento certo.
Morar sozinho é uma das melhores maneiras de aprender a ser responsável. Parece simples, mas cuidar de pagamento de contas, limpeza, resolução de conflitos (ao dividir com outros) e independência dos pais requer amadurecimento. Essas são algumas das lições valiosas que todos precisam aprender ainda no início da vida adulta ou terão problemas.
2. Experimentar coisas diferentes
Jovens tendem a ser muito cheio de si, ter opiniões firmes e agir, frequentemente, de forma inflexível. Se os 20 anos não for o momento de ter mente aberta, então nenhum será. A maioria das pessoas descobre suas paixões nessa época porque é quando são expostos a maior quantidade de coisas novas — e estão mais abertos a elas. Música, arte, pessoas, lugares, profissões, eventos, fenômenos culturais, tribos, etc. Como uma criança que, sem julgar por não saber fazê-lo, aproveita mais; os 20 anos devem ser um período de experimentações e de dar chance a coisas novas.
Ao mesmo tempo, é preciso ter personalidade para expor suas opiniões. Experiência forma critérios que são essenciais na vida mais adiante. Agora, nem tanto. A única regra aqui deve ser: se não parece certo para você, não faça.
3. Viajar para o exterior
Viagens são como um balde gelado de energia e felicidade. Você pode passar 48 horas seguidas em um ônibus e, ainda assim, voltará renovado. Conhecer um outro país então é uma experiência completamente diferente. Principalmente, se você fugir de roteiros turísticos, for para um país bem diferente ou fizer um intercâmbio. A cada novo país, sua mente se transforma, quase como se ela expandisse. E segundo Einstein, uma vez expandida, a mente nunca volta ao tamanho normal.
4. Dominar um idioma
Assim como os itens anteriores, um novo idioma expande a mente ajudando no aprendizado de novas coisas e no desenvolvimento humano como um todo. Sem ele, esqueça viagens ao exterior e 90% da literatura de qualidade que nunca será traduzida. Nunca foi tão fácil aprender um idioma, hoje tem aplicativos, EADs e cursos intensivos à disposição. Só é preciso tempo e força de  vontade, e o primeiro você tem que eu sei. (Se você acha que não tem tempo agora, espere alguns anos.)
5. Curtir a vida adoidado
De fato, os 20 anos não serão os melhores anos da sua vida. Mas eles têm tudo para ser os mais malucos e inconsequentes. Eles darão histórias para contar, lições a aprender e limites pessoais para descobrir. Não é preciso sair de segunda a segunda ou chegar de manhã em casa, mas é preciso fazer isso ao menos uma vez na vida. É preciso se divertir ou se tornará um velho chato! Esse é o momento de chegar em casa sem saber como, e passar o domingo de ressaca. Eventualmente, sua vida ficará mais séria e esses momentos de extrapolação mais raros.
Mas não há motivos para pânico! Não é o fim do mundo e ainda existirão momentos tão divertidos ou mais (se você não ficar tão careta). A ideia é aproveitar quando você supostamente deve aproveitar, agora! O natural é que, com o tempo, você comece a ficar mais seletivo. Aos 28, você não estará fazendo as mesmas loucuras dos 22. Isso se chama amadurecimento. O que ficará são as lembranças e a sensação de que você aproveitou o que pode, agora é hora de crescer.
6. Construir hábitos saudáveis
O fígado não é a única coisa que deve ser exercitada nessa fase da vida. A juventude não dura para sempre e é preciso se preparar. Introduzir hábitos saudáveis ainda jovem é a melhor forma para isso. Então, a dica é começar cedo. Descubra um esporte ou atividade que você goste e pratique! Exercícios físicos não são bons apenas para o corpo, mas também para a mente e deixam as pessoas mais alegres, dispostas e satisfeitas.
Implementar uma alimentação saudável desde cedo também rende benefícios imensuráveis, e é muito mais fácil se você fizer ainda cedo — cortar alimentos gordurosos, comer mais vegetais e diminuir consumo de carne e produtos industrializados. Hábitos levam tempo e não dá para desanimar nas primeiras dificuldades. É muito melhor fazer agora por opção do que no futuro por obrigação.
7. Levar o trabalho a sério
O trabalho veio para ficar, então é bom se acostumar com ele. Além disso, ele é essencial para a formação de um adulto. O trabalho muda a visão de mundo, o valor do dinheiro, a relação com as pessoas, estabelece prioridades e lhe dá duras lições que se mostrarão vitais lá na frente. Nem todo emprego é ruim, nem todo chefe é idiota, nem todo salário é baixo demais… mas se você se deparar com algum (ou todos eles), saiba que faz parte do crescimento superar e seguir em busca de algo melhor. O quanto antes você se der conta disso, mais cedo triunfará. Lembre-se de Freud: ele dizia que o emprego é uma das duas únicas formas de você não ficar neurótico. (A outra é terapia)
8. Considerar a carreira acadêmica
Para todos aqueles graduandos e recém-graduados, saibam que existe vida além das empresas. Considere seguir a carreira de pesquisador e professor na área que escolher. É um caminho diferente do mercado de trabalho e nem todos os perfis se encaixam. Apenas saiba que é uma opção viável a ser considerada.
9. Construir bons relacionamentos
Darwin disse que as amizades de um homem é uma das melhores maneiras de medir o seu valor. Então, agregue valor construindo relações valiosas por onde passa. É uma prova de que você está no caminho certo.
Não é quantos amigos você tem no Facebook, mas quantos você pode contar para bater um papo, pedir um conselho, enviar um currículo. Estudos mostram que as pessoas conseguem mais oportunidades de conhecidos do que de amigos. Não descarte as pessoas simplesmente porque não compartilham dos mesmos gostos, gentileza gera gentileza, ao menos em 90% dos casos. É preciso respeitar e manter a política da boa vizinhança. O ser humano é um ser social, não dá pra lutar contra os instintos.
10. Apaixonar-se de verdade
Sem amor você é um barco sem mar, um campo sem flor. Vinícius, obrigado pelo conselho. Tanto Vinícius de Moraes como Tom Jobim concordaram que é impossível ser feliz sozinho. Então para que ficar? No entanto, o amor não é algo que se procura/acha, ele simplesmente acontece. O engraçado é que ele parece acontecer com maior frequência quando se é jovem. Será amor? Na dúvida, vá fundo. Viver um grande amor ainda jovem, ainda que termine (algo normal), o ajudará a diferenciar sentimentos verdadeiros dos efêmeros. A melhor maneira de achar a pessoa certa é se divertindo com as erradas. Sad but true.

segunda-feira, 8 de dezembro de 2014

Birra na criança: acesso de ira.

Com a lei da palmada - como em países autoritários é comum o Estado se imiscuir em assuntos familiares e direcioná-los -, que vem a reboque da falta de educação e orientação do povo, muitos pais ficaram em dúvida: como reagir com seus próprios filhos? E diante da birra? Vamos ler este texto.

Também conhecido como acesso de ira, algumas crianças são mais propensas a “chiliques” do que outras e parecem ter o pavio mais curto. Talvez isso seja apenas um traço da personalidade.
O acesso de ira ocorre quando a criança investe contra o mundo sem que esse reaja. Pode ser disparado por várias coisas, mas sua origem é sempre algum tipo de frustração.
São várias as hipóteses: a criança descobriu que não pode fazer alguma coisa desejada, pois ainda não obteve as habilidades necessárias, ou obteve um resultado diferente do esperado. Ou alguém a impediu de fazer algo que ela queira fazer, ou você tentou fazer uma coisa contra a vontade dela, ou simplesmente ela atingiu o limite emocional. Seja qual for o motivo, o pavio chega ao fim e ocorre a explosão.
Já é bastante chato quando o chilique acontece no chão da sua sala de jantar, imagine então no supermercado, no carro, na casa de um amigo e isso pode acontecer em qualquer lugar.
A mãe pode, sim, minimizar as frustrações dos filhos nessa idade, mas não poderá eliminá-la por completo. É importante saber que a ira é inerente ao processo de aprendizado e as técnicas para definir limites podem acabar com um ataque logo no inicio, mas nem sempre isso é possível. A única coisa que a mãe deve fazer diante de um acesso de ira é não ceder. 
Render-se é provar para criança que o “chilique” funciona, e você não quer esses acessos no futuro, quer?
Estar nessa situação assustadora é ruim para mãe e para criança. A criança sente-se perdida e totalmente tomada pelo sentimento de fúria. Uns correm em círculos gritando, outros se jogam no chão, sapateiam e berram, há aqueles que batem a cabeça nos móveis ou mesmo em você. Bem complicado! Mas veja algumas dicas da superbabá Jo Frost e saiba lidar com um ataque de raiva:

*A primeira coisa é assegurar que a criança não se machuque, nem machuque os outros, tampouco quebre algo;
*Tente manter a calma. Raiva apenas piora a situação. Se não conseguir controlar, afaste-se da cena. A pior coisa a ser feita é revidar um chilique com outro;
*Nem tente argumentar com a criança nesse momento. Ela não conseguirá ouvi-lo, ela não quer escutar nada;
*Algumas crianças cessam o ataque de raiva mais rápido quando um adulto as segura com firmeza. Com outras, isso pode piorar a cena;
*Retire-se da sala, se puder, assim que estiver certa de que ela não irá se machucar, nem quebrar nada. Se o chilique for deliberado, o que pode acontecer com crianças mais próximas dos três anos, ignorar completamente o acesso de ira pode resolver o problema.

O que faz uma criança perder a paciência

*Paciência não é uma virtude nessa fase. Muitas crianças simplesmente não conseguem esperar nem um minuto sequer para nada;
*Não conseguem lidar com muitas opções ao mesmo tempo. Simplesmente não entendem o significado da frase “um ou outro”. Muitos de seus desejos serão contraditórios. Seu filho pode querer calçar o sapato e ficar descalço ao mesmo tempo;
*Não consegue planejar. É impulsiva, age de imediato e não tem a menor ideia das consequências de seus atos, nem de como se sentirá depois;
*Não tem autocontrole;
*Não tem noção de perigo;
*Não entende que suas ações podem afetar os sentimentos dos outros. Não gostam de revezar. Se você disse: “Empreste seu brinquedo um pouquinho”, seu filho pode pensar que nunca mais terá o brinquedo de volta. É explosão certa;
*Como sua memória é limitada, você precisa repetir a mesma coisa várias vezes;
*Não entende o que é uma promessa até vê-la cumprida. Quando quer algo, quer agora mesmo. Quando se fixa em uma coisa, não tem acordo, você pode até tentar, mas será em vão;
*Quer mais atenção do que é humanamente possível, 24 horas por dia é pouco para elas. 

Fala a verdade, o texto ajudou? Salvou uma criança da palmada e uma mãe de responder a uma CPI (comissão de pais ignorantes)?


sexta-feira, 5 de dezembro de 2014

O que acontece com você quando leva um fora do (a) amado(a)

Li o texto, gostei.
Por Danilo Barba

Você está no meio da discussão do fim do seu namoro e se sente uma pessoa diferente. Mais tarde, você se flagra um tempão ansiando pela presença da sua ex, checando constantemente as atualizações do seu Facebook (e se perguntando o que deu errado). Essa mudança nos padrões de pensamento e comportamento podem ser causados por mudanças neurais que ocorrem após o término. 

Inesperado ou indesejado, o fim da relação pode gerar uma angústia considerável sobre a sua mente. Não é à toa que muitos dizem sentir como se tivessem levado um soco no estômago ou sido nocauteados de surpresa. Mas é comum se sentir rejeitado ou colocar tudo o que você soube até aqui em dúvida — principalmente quando não conseguimos nos libertar, mesmo querendo. Sim, amigos e família podem até pressionar a pessoa a simplesmente superar e seguir em frente, porém pesquisas cerebrais sugerem que isso pode ser bastante difícil de fazer, pelo menos nos primeiros meses. 

1) Dor física
Segundo Edward Smith, neurocientista da Universidade de Colúmbia, mesmo depois de seis meses após o fim do relacionamento, as pessoas ainda sentem dor só de olhar a foto da ex. Sua equipe de cientistas descobriu recentemente através de um estudo que a mesma região do cérebro entra em atividade tanto quando vemos a imagem da antiga amante quanto ao sofrer dor física. E a dor é quase sempre um sinal de que algo não está bem. No reino animal, as chances de evitar predadores são bem maiores quando se está em grupo do que sozinho, portanto a rejeição social pode ter sido uma ameaça real para a sobrevivência de nossos ancestrais. 
2) Ideias obsessivas e súplica
Ficar ruminando sem parar sobre a ex, como ela está se sentindo, se também sente falta da relação que vocês tinham...e por aí vai! Tudo isso pode ser “ativado”no cérebro por lugares que vocês costumavam ir juntos, ou pessoas com quem saíam no final de semana. Neste sentido, encarar o fim é como lidar com um trauma: existem ciclos de dor emocional e distração, ou uma intensa enxurrada de sentimentos ou pensamentos obsessivos. Enquanto os homens preferem se distrair para evitar sentimentos, as mulheres tendem a ficar obcecadas e ruminar.  

3) Abstinência
De acordo com Lucy Brown, PhD e professora do Departamento de Neurologia da Faculdade de Medicina Albert Einstein, relembrar ex-namoradas mexe com áreas do cérebro associadas com a recompensa e a motivação, especificamente, com a liberação de dopamina — o que também acontece no vício em drogas. Por causa disso, as pessoas podem sentir desejo por seu ex-parceiro de forma semelhante à maneira como os viciados anseiam por uma substância em período de abstinência. Isto pode levar a uma aflição intensa e fisiológica, levando à ausência de apetite e desconforto psicológico.

4) Esperança e flexibilidade
Não espere que você seja capaz de simplesmente “superar e seguir em frente” no ato. Dê um tempo para seus sentimentos nas primeiras semanas. Distração e atividades de autocuidado também podem ajudar. Segundo Melanie Greenberg, PhD em psicologia, a teoria do condicionamento sugere que lugares, pessoas ou atividades associadas com a ex provavelmente vão desencadear aflições: “evite estes lugares enquanto estiver desenvolvendo novas rotinas”. 

terça-feira, 2 de dezembro de 2014

Seja um lifeaholic e não um workaholic


Já falei deste blog (Pequeno Guru). Maravilhoso. O autor escreve bem. O texto de hoje vai falar de felicidade, de trabalho, e também de filosofia. É muito bom.

Na vida há duas certezas: você vai morrer e você vai ter que trabalhar (muitos fogem do trabalho, e quem sabem estão fugindo da vida). Ainda pequeno, passamos pela nossa primeira “avaliação de desempenho” — a escola. Lá aprendemos o essencial para aproveitarmos a vida; ler, fazer contas, conviver com as diferenças, conhecimentos básicos sobre a natureza, o corpo humano, a história do lugar onde nascemos e até sexo (talvez a matéria que todos querem repetir). Mas não basta aprender, você tem que provar que aprendeu.
Desde a infância, sem saber, você é treinado para a vida profissional. Seus pais fizeram entrevistas com você para saber o que você queria ser quando crescesse, e observaram de perto para ver se você não ia seguir a carreira de caminhoneiro, picolezeiro, ou bombeiro. Nada contra, mas pais têm grande tendência a preferir profissões clássicas como médico e advogado. Porque a vida não é um conto de fadas. Na vida real, os desafios nunca param. Entrar em uma boa universidade, conseguir um bom emprego, ser promovido e chegar ao topo da profissão estão entre os mais comuns e difíceis obstáculos da vida de um ser humano.
Fato é que se tem uma coisa que todo homo sapiens nasceu para ser é feliz. Se alguém nunca lhe disse isso, saiba que ser feliz é o seu principal objetivo aqui na terra, algo impossível de alcançar machucando os outros ou a si mesmo. É duro ver pessoas levando uma vida toda para descobrir isso, e então definir a sua felicidade como prioridade.
Acho que todos nós somos apaixonados pela vida (se tem alguém que não, por favor, deixe um comentário e faremos de tudo para ajuda-lo), mas acabamos tendo tão pouco tempo para aproveitá-la que seria muito mais fácil ser apaixonado pelo trabalho. E o ideal é que você seja mesmo, pois pesquisas mostram que é difícil ser feliz sem satisfação profissional. Ao mesmo tempo, uma carreira de sucesso não garante uma vida feliz, é preciso ter amigos, família e atividades que preencham as horas livres com momentos de descontração e estímulo. Precisamos ser lifeaholics, pessoas apaixonadas pela vida que trabalham duro para conseguir viver do seu jeito. Pessoas que conduzem a sua própria vida, e não são conduzidas por ela. O momento certo para começar a ser um lifeaholic foi ontem, então você já está atrasado.
“Conhecer os outros é inteligencia, conhecer a si é a verdadeira sabedoria” (Lao-Tsé)
Um pouco de filosofia…
É difícil amar a vida e usufruir o melhor dela sem autoconhecimento e vontade de crescer em todos os sentidos. Melinda Gates disse recentemente que o que ela mais se importa na vida é ser uma ótima mãe, esposa e amiga. Eu me pergunto, quem se esforça para ser um amigo melhor? Eu tenho tentado desde que mudei duas vezes de cidade, mas tenho certeza que posso mais. Essa consciência de que você está longe de ser perfeito é crucial para o crescimento individual.
Cada um precisa encontrar o seu TAO, o seu caminho, algo que deveria acontecer naturalmente, mas nosso livre arbítrio acaba atrapalhando o processo de mudança natural e a chegada ao equilíbrio. Lao-Tsé dizia que só é possível alcançar o TAO através do do Wu Wei que significa “não ação”, mas não de ficar sentado esperando olhando Facebook, e sim agir conforme a sua própria natureza, de forma espontânea, sem ligar para o que os outros vão pensar (Deus dá os alimentos aos pássaros, mas não os joga no ninho). Encontrar o TAO é encontrar a felicidade.
Corta para Grécia. Quando Aristóteles morreu, duas escolas importantes da filosofia ascenderam na Grécia Antiga: a hedonista e a estoicista. A primeira defendia que o prazer do corpo é o sentido da vida (não confundir com o sentido pejorativo, atribuído muitos séculos depois), mas por algum motivo não alcançou grande sucesso quanto a segunda. O estoicismo fez tanto sucesso na Grécia que chegou à Roma, onde se tornou a base para a ética pessoal e política do Império Romano antes do cristianismo assumir, no século VI. Cícero e Marco Aurélio, dois dos maiores intelectuais da época, foram famosos defensores dos princípios estoicistas. Dentre os princípios defendidos, estavam a clemência aos escravos e que status e riqueza não deviam ser importantes valores sociais (precisamos mais Cíceros e Marcos Antônios).   O estoicismo dizia que cabe ao individuo escolher por de lado as coisas sobre as quais têm pouco ou nenhum controle, e tornar-se indiferente à dor e ao prazer. Para isso, é preciso… adivinhem? “Viver de acordo com a natureza”.
Com 300 anos de diferença, 7.000 km de distância e considerando que o cavalo era o meio de transporte mais rápido da época, acho pouco provável que Lao-Tsé e Zenão de Cítio tenham debatido acerca do assunto. Mesmo assim, ambos disseram para vivermos do nosso jeito, de forma simples e de acordo com a natureza, porque “a felicidade é o bem fluir da vida”.
Eles basicamente estavam dizendo: Quer torrar o salário em viagens? Viaje! Quer dormir até tarde? Durma até tarde, quer ir para balada e encher a cara toda semana? Faça! Quer viver de arte? Viva de arte! Se isso realmente o fizer feliz, sem duras consequências (para a sua vida e as dos outros), siga o seu instinto. É isso que  a filosofia tem nos ensinado há séculos e estudos vem tentando comprovar nas últimas décadas, com sucesso. Ser feliz não tem regra, mas costuma seguir certos padrões.
Eu queria…
Se você é humano e empregado, alguma vez já disse “eu queria tanto fazer [complete aqui], mas não tenho tempo”. A culpa é, na maioria dos casos, do trabalho. O que é aceitável já que você, provavelmente, passa metade do seu dia útil fazendo coisas para os outros. Mas será que não tem nada que pode fazer a respeito?
“Um dano imenso é causado pela crença de que o trabalho é virtuoso” (Bertrand Russel)
Faz parte da nossa cultura, admirar quem trabalha duro. Soa quase como uma conquista dizer que ficou trabalhando até tarde na noite anterior (quem já não passou por isto nas empresas?). Russel despreza essa visão. É óbvio que ele não se referia a quem trabalha saudavelmente 9 horas por dia, viaja nas férias e aproveita os feriados em família. Ele criticava o sistema em que os que menos ganham são os que mais trabalham, não tendo nem dinheiro nem tempo para aproveitar a vida. Para Russel, precisamos trabalhar menos para ter tempo de fazer coisas que tragam significado à vida. Mas tinha um problema, como as pessoas só sabiam trabalhar, o que elas fariam se tivessem mais tempo livre? Eu não sei você, mas eu conheço uma porção de pessoas que não sabem o que fazer com um dia de folga. Certamente, esse não é o tipo de pessoa que a sociedade deve admirar.
Viciado pela vida
Trabalho faz parte da vida, mas nenhuma vida deve se resumir a ele. Uma vida plena é preenchida com doses diárias de satisfação das mais variadas fontes. A maior parte das pessoas tem uma ou duas fontes de prazer, mas eu realmente acredito que é preciso ter várias. Trabalho e família são as duas maiores, e exercem grande impacto na vida — é preciso assegurar de estar muito bem em pelo menos uma delas. Há uma infinidade de pequenas e médias coisas na vida que trazem felicidade em doses homeopáticas, mas que ao final, tornam a sua vida muito mais gostosa.
Especialize-se em arrumar um tempo para você, a maioria das pessoas acaba deixando os outros tomarem conta das suas preciosas horas. Você precisa de um tempo para você, todo mundo precisa. Não é egoísmo, é necessidade. Faça o que você gosta, mas também experimente coisas novas. É o maior clichê do mundo, eu sei, mas clichês funcionam.
Reduza o futuro do pretérito ao máximo. A maioria dos “ias” é perfeitamente realizável com vontade e um pouco de iniciativa. Lembre-se que começar é a parte mais difícil. Se lhe faltar motivação, olhe para a quantidade de jovens que morrem com câncer todos os anos (jogo baixo, eu sei). Essas são as pessoas que, infelizmente, podem dizer “eu faria se…”. Não há nada mais triste do que ver uma vida terminar precocemente, e saber que pode acontecer com qualquer um de nós, em qualquer dia, é o maior motivo para sermos completamente viciados em viver.

sábado, 29 de novembro de 2014

Você já adquiriu o mais novo best seller?

Aos leitores, amigos, colegas, parentes e seguidores do meu blog, o  agradecimento pelo sucesso de meu livro "Contos, Encontros & Reencontros".
 Por que best seller?
Em comparação com meu primeiro livro (Ceci e Chico Sete Boias - teve gente que adorou este título - já esgotado), este segundo  alcançou um sucesso realmente bem elevado:
Ele comemora um ano de lançamento neste mês de dezembro. E neste período vendi o mesmo tanto do que o  outro em quatro anos!!. Muito bem vendido. A que se deveu isto?
- a beleza da capa e os contos bem urdidos.
- um marketing mais agressivo.
- 4 noites de autógrafos.
- um maior número de amigos, colegas, vizinhos e até parentes que compraram desta  vez.
- forte presença de andrelandenses.

Isto tudo é muito bom.

Agora, em Dezembro é hora de você dar livros de presente tanto para o "amigo oculto" quanto no Natal.
Locais onde encontrar o livro:

Belo Horizonte
Cooperativa Médica – Av. Alfredo Balena,190. Tel. 31-3273.1955
Livraria do Psicólogo e Educador. Av. do Contorno, 1390. - Floresta. Tel. 31-3303.1000
Livraria do Ponteio – tel.  31-3286.4039
Café e Livraria da Praça – Rua Dom Joaquim Silvério, 656 Coração Eucarístico tel.:  31- 2537.5805
Livraria do Cine Belas Artes -  Rua Gonçalves Dias c/ Rua da Bahia. tel. 31- 25117151.
Brasília
Agência de Revista - Terraço Shopping   tel  61-3234.8146
Cabo Frio – RJ
Livraria do Boulevard.  Praia do Forte tel  22-26466913
Andrelândia
Banca de Revistas Djair – Perto da Prefeitura – tel 35 9902.1858
Hotel  Pousada dos Querubins tel – 35 3325.1162
Casa de Queijo - Antiga Avenida Getúlio Vargas



Hoje, passo para vocês - que ainda não leram - uma parte de um conto para espicaçar a curiosidade.

INTER MULIERIBUS


- Quebrei o maior pau. Fiz o maior barraco – no momento em que a mulher acabara de falar, não se sabe se por coincidência ou por algum truque de um anjo torto, a orquestra parara de tocar, o silêncio reinando no grande salão, pois os dançarinos também ficaram estáticos, de modo que as palavras alçaram vôo e atingiram os ouvidos silenciosos dos presentes que viraram o rosto para a direção de onde vinha a voz, firme e agressiva. Mas tudo passou em questão de segundos, porque a orquestra retomou seu ritmo, atacando num bolero vivace enquanto os casais, todos depois da faixa de 50 anos rodopiavam pelo salão, na forma como podiam suas, quase sempre, trôpegas pernas, ou pela idade ou pelas inúmeras danças já realizadas, naquele fim de tarde num Baile da Terceira Idade, próximo a uma conhecida e movimentada Avenida da Zona Sul, em Belo Horizonte. Havia um quê de sensualidade no ar, um erotismo difuso perpassando os corpos, uns, colados, outros, a média distância, com se preparando para chegar mais perto, mas não é da sensualidade e do erotismo que se vai falar, mas é preciso voltar à mesa onde estavam três mulheres, de faixas de idade diversas, que, entre uma cerveja, um refrigerante e um uisque, falavam de suas vidas. E era a mais nova, uma morena de cabelos luzidios, ainda não chegada aos 50, com olhos pretos e grandes que repetia a frase para as amigas:
- Quebrei maior pau. Fiz o maior barraco. Peguei toda a louça e atirei pela janela do apartamento. Pratos, garfos, facas, colheres e mais o que tinha à mão, jogava no pátio interno do...


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E o que vai acontecer? Que histórias virão? Não deixem de ler o restante no livro. 

quinta-feira, 27 de novembro de 2014

Pobreza e desempenho cognitivo.

O título poderá levar a  pensar  erroneamente que se está reforçando preconceito. Muito pelo contrário. Apresenta-se aqui um conjunto de pesquisas científicas bem sérias.

Pobreza e desempenho cognitivo.

A sabedoria popular diz que os ricos ficam mais ricos e os pobres mais pobres. E, nesses últimos anos, neurocientistas e economistas que pesquisam a relação entre a pobreza e o desempenho cognitivo têm encontrado algum fundamento para essa afirmação, bem como alguns fatores tratáveis que podem ajudar a romper com esse círculo vicioso.
O desenvolvimento do cérebro humano é determinado basicamente por dois fatores: a genética herdada dos pais e o ambiente no qual a pessoa é criada, desde a gestação até a vida adulta. O nível socioeconômico de uma família influencia diretamente o ambiente onde a pessoa é criada e, consequentemente, afeta a cognição, o desempenho escolar e a saúde mental.
Pesquisas sobre o nível socioeconômico identificaram alguns pontos que ajudam a explicar o seu efeito sobre o desenvolvimento do cérebro, os quais estão listados abaixo:
·         Cuidados dos pais: a qualidade dos cuidados prestados pelos pais tem demonstrado um efeito principalmente sobre o desenvolvimento emocional da criança.
·         Estímulo cognitivo: devido à plasticidade do cérebro, uma criança que cresce num ambiente onde recebe mais estímulos cognitivos, como jogos, livros, entre outros, consequentemente acaba tendo um melhor desenvolvimento cognitivo.
·         Nutrição: a ingestão de nutrientes e calorias influenciam os mecanismos relacionados à cognição e emoção. Famílias de baixa renda tem menos acesso a comidas saudáveis e possuem um risco maior de falta de comida e deficiência nutricional.
·         Exposição a toxinas: devido às condições mais precárias de moradia das famílias de baixa renda, é maior o risco de exposição a toxinas que afetam o desempenho cerebral, como acontece com o chumbo.
·         Estresse: famílias de baixa renda estão geralmente expostas a ambientes com níveis de estresse mais elevados, provenientes do estilo de vida, vizinhança mais perigosa, barulhos, entre outros fatores. Isto pode levar ao estresse crônico e afetar o desenvolvimento cognitivo de toda a família.
O efeito do estresse sobre o desenvolvimento cerebral tem sido muito pesquisado ultimamente e os seus efeitos sobre regiões específicas do cérebro estão cada vez mais claros. O córtex pré-frontal, mais relacionado a funções executivas, e a amídala, relacionada ao controle emocional, são bastante afetados pelo estresse. As regiões pré-frontais que normalmente regulam a amídala são enfraquecidas pelo estresse, permitindo que o cérebro fique mais sensível ao estímulo emocional. O cérebro essencialmente sai do modo lento, mais pensativo, para o modo rápido, mais impulsivo e instintivo. Felizmente, se o estresse encerra, a habilidade cognitiva poderá retornar ao normal.
Porém, um estresse de longo prazo durante a infância, quando as regiões pré-frontais ainda estão se desenvolvendo, podem deixar importantes funções cognitivas, como o controle do impulso, a capacidade de atenção, e a memória de trabalho,  permanentemente debilitadas. Um estudo recente, com um grupo de pessoas com 24 anos de idade que viveram a infância na pobreza e sob estresse de longo prazo, identificou que elas possuíam na média uma menor habilidade de regular a amídala. Ao comparar essa deficiência com a renda atual dessas pessoas, os pesquisadores não encontraram relação, sugerindo que ela foi causada na infância.
Outra linha de pesquisa tem explicado os efeitos do estresse sobre a habilidade cognitiva através da teoria de que a capacidade cognitiva de uma pessoa é limitada e que pode ser consumida com o uso, pelo menos temporariamente. Em experimentos, pessoas que são forçadas a exercer o auto-controle, um aspecto chave para a tomada de decisão no dia-a-dia, mostram evidências de redução do mesmo em tarefas posteriores. Alguns pesquisadores argumentam que a pobreza, devido à preocupação causada pelo estresse, é um estado que consome tanta capacidade cognitiva que pode exaurir o auto-controle rapidamente.
Essas descobertas oferecem uma oportunidade única para entender como os fatores ambientais podem levar a diferenças no desenvolvimento cerebral dos indivíduos. Também podem servir para melhorar programas sociais e diretrizes governamentais, no sentido de aliviar as disparidades causadas pelo nível socioeconômico na saúde mental e desempenho escolar ou profissional.

Fonte:
Hackman, Farah e Meaney, Socioeconomic status and the brain: mechanistic insights from human and animal researchNature Reviews Neuroscience, 11 (Set 2010), 651-659
Kim e outros, Effects of childhood poverty and chronic stress on emotion regulatory brain function in adulthoodProceedings of the National Academy of Sciences of the USA, Nov 2013, 110(46):18442-7