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Mário Cleber da Silva.
Psicólogo.
. Por que somos atraídos ou não por outras
pessoas? Têm sido múltiplas as explicações para as atrações interpessoais Desde
algo misterioso, uma química inexplicável, um popular "místico" (meu
anjo não bate com o dele), ou simpatia natural, a química cerebral e, até
mesmo, tipos de personalidade.
À psicologia, como ciência do
comportamento, cabe dar explicações e algumas respostas têm sido
oferecidas, com diversos enfoques.
ATRAÇÃO E REFORÇO
O princípio do reforço é a mais comum das explicações
para o fato de ser atraído ou gostar de alguém: gostamos daqueles que nos
reforçam e não gostamos de quem nos pune. Até em relação aos grupos, ficamos
naqueles que têm sucesso e abandonamos os que fracassam. O sucesso é reforço e
o fracasso, punição.
Os reforços que os outros nos proporcionam
têm matizes e tons diversos: atenção, afeto, beleza, segurança, concordância
com nossas idéias e valores, alegria, bom humor, etc. Um simples sorriso, um
olhar, uma palavra, às vezes, bastam.
Pensando em reforços como recursos, podemos
dizer que quanto mais recursos alguém dispuser para distribuir, mais as outras
pessoas serão atraídas por ele. Se forem raros ou escassos esses recursos, os
outros não se aproximam e ficam distantes. Em nossa cultura, as pessoas
bonitas, inteligentes, de bom humor, bem informadas, extroversivas e
comunicativas (portanto, com mais “recursos”) tornam-se mais atraentes. Mas em
um grupo de delinquentes, são outros os atrativos: a força física, a astúcia ou
até mesmo a crueldade.
Aqui entra o conceito de “custos
versus benefícios”.
Toda relação interpessoal implica custos e
produz determinados resultados, com maior ou menor benefício. O resultado do
custo versus benefício é que vai dar rumo à relação. A quantidade de recompensa
é que vai ajudar a manter ou não a relação. Por exemplo, uma pessoa me dará
prazer por ser inteligente, mas tenho que tolerar o fato de ela ser mandona,
autoritária, “metida”, impaciente. O benefício de conviver com essa pessoa
inteligente compensa os “custos” de ter agüentar os aspectos que não gosto? Se
não compensar, eu me distancio, me afasto dela.
Nível de Comparação (o NC) é a expectativa
do resultado custo - benefício a ser produzido em nossas inter-relações.
Algumas pessoas são muito exigentes e têm um NC muito alto e podem ter
dificuldades nos relacionamentos por isso.
Outros, mais modestos, têm um nível de
expectativa menor.
As pessoas são atraídas a estabelecer e
manter contatos com outras pessoas que produzam resultados iguais ou superiores
ao seu N.C. Se for abaixo, a inter-relação não se dá ou, então, acaba Há
pessoas porém que, na falta de relacionamentos, aceitam aqueles que estão
abaixo do seu NC. Mas correm o risco de ficarem insatisfeitas.
As pessoas, situações e objetos próximos da
pessoa que nos reforça também se tornam reforçadores. Se gostamos de quem nos
reforça, vamos gostar do que está ao seu redor.Ou do que ela gosta, do que ela
usa , de sua preferência musical, de seu perfume. É com o se houvesse uma
identificação com esta pessoa.
Algo curioso e interessante acontece com os
elogios e as críticas:
Um elogio partindo de um desconhecido é
mais reforçador do que partindo de um amigo. Sabemos que nossos amigos vão nos
elogiar Por outro lado, a desaprovação ou crítica de um amigo dói mais do que
de um desconhecido.
A angústia é uma situação que sempre
evitamos e vários estudos têm demonstrado que a presença de outras pessoas
ajuda a aliviar a angústia. Procuramos os outros e nos aproximamos das pessoas
porque isso diminui a nossa angústia. Outros experimentos em psicologia social
chegaram à seguinte conclusão: pessoas angustiadas buscam preferencialmente
outras pessoas angustiadas, que estejam em situação semelhante. E por que?
Talvez para reduzirem diretamente a sua própria angústia e para se
auto-avaliarem. Será que estou tão ruim quanto ele?
O ser humano não tolera, por muito tempo, o
isolamento social, que poderá provocar doenças físicas e ou psíquicas.
ATRAÇÃO E RECIPROCIDADE.
Já vimos que nos sentimos atraídos por
aqueles que nos reforçam, porém, para que a atração perdure e surja uma relação
estável, necessitam-se de gratificações recíprocas. Gostamos das pessoas que
achamos que gostam de nós. E isso pode acontecer de duas formas: ou sentimos
atração por alguém e, assim, achamos que este alguém gosta de nós, ou
percebemos que alguém gosta de nós e nos sentimos atraídos por ele.
As pessoas de elevada auto-estima e que
aceitam a si próprias são as mais capazes de dar e receber afeição
Existe a hipótese de que quanto maior a
proximidade entre as pessoas, maior a possibilidade de se sentirem atraídas
entre si. Gostamos mais das pessoas que se sentam perto de nós na escola, somos
mais atraídos por colegas de sala, ou os outros colegas do mesmo curso, da
mesma escola. E mais, os preconceitos diminuem a partir do momento que as
pessoas ficam mais próximas. A proximidade também é fator importante na escolha
do cônjuge. A proximidade interfere nas amizades.
A proximidade está relacionada com a
atração interpessoal, mas, por si só, não causa a atração: ela aumenta a
probabilidade da atração mútua.
A importância da proximidade é m ais bem
avaliada através de:
1)Acessibilidade: É
mais provável que as interações aconteçam com as pessoas mais próximas.
2) Interação
contínua. Isto porque ela:
- Provoca maior
conhecimento entre os integrantes de uma relação.
- Tende a
diminuir os preconceitos.
- Extingue a
hostilidade autística (fenômeno que se caracteriza pelo fechamento sobre
si mesmo, interrupção de relacionamento e negativa de interação). A
exigência de interação quebra o “gelo”.
- Gera um maior
esforço para melhorar a relação, acentuando os traços positivos e
diminuindo os negativos, e tentando reduzir os conflitos.
- Aumenta o
conhecimento entre as pessoas, facilitando a previsibilidade de suas
reações e comportamentos. As pessoas não gostam de enfrentar situações
desconhecidas e ambíguas, pois provocam ansiedade e insegurança. A
interação contínua aumenta o conhecimento sobre o outro e conseqüentemente
diminui a ansiedade.
- A
familiaridade - decorrente da proximidade - provoca avaliações positivas.
Gostamos mais e somos mais atraídos por pessoas que vemos com mais
freqüência. Existe, porém, a possibilidade de que a proximidade possa
levar à agressividade ou hostilidade, sobretudo quando as relações
anteriores estiverem comprometidas. Um terço dos assassinatos ocorre
dentro da família, de acordo com pesquisas sobre violência. Temos visto e
assistido a um aumento das violências entre parentes. Pode-se pensar
mesmo que quando há contatos excessivos, ou por necessidade, ou por falta
de espaço físico, eclode a violência.
REFORÇOS E SEMELHANÇAS.
Há uma forte e significativa relação entre
semelhança e atração interpessoal. Sábias palavras de Spinoza: “Toda pessoa se
esforça por fazer com que os outros amem o que ela ama e odeiem o que ela
odeia”. E o ditado popular afirma: cada qual com seu igual. Não obstante o
também ditado popular que diz “dois bicudos não se beijam”, vamos falar das
semelhanças e depois da diferenças.
O grau de semelhança entre duas ou mais
pessoas está relacionado com a atração que uma exerce sobre a outra. Mas não é
qualquer tipo de semelhança (altura, cor do cabelo, o mesmo tipo de carro,
etc...). A semelhança só exercerá atração se possuir elementos reforçadores
como atitudes e características de personalidade, que prepararão o terreno para
futuras amizades.
Mas, é a semelhança que gera a atração ou é
a atração que gera semelhança? Há estudos que mostram que a percepção de
semelhanças leva à atração, e há outros que indicam que a atração é responsável
pela percepção das semelhanças. Percebemos mais semelhanças em pessoas que
gostamos e mais diferenças em pessoas que não gostamos. Entretanto, as pessoas
que sentem atração mútua se percebem como mais semelhantes do que na realidade
o são.
Por que a semelhança provoca atração?
Porque há possibilidade de que as pessoas sejam reforçadas ao se aproximar de
alguém que é semelhante. Não é a semelhança em si mesma que gera a atração, mas
a expectativa de que a semelhança provoque uma interação mais gratificante.
Procuramos não interagir com pessoas desconhecidas ou diferentes, por medo de
rejeição, ou porque a interação pode exigir muito de nós mesmos e nos oferecer
pouco em troca.
Por que a semelhança é reforçadora? Por
vários motivos:
1) As pessoas obtêm equilíbrio interno e
coerência cognitiva ao gostar de pessoas que têm atitudes semelhantes às suas.
2) Desde criança aprendemos que a aceitação de
crenças e opiniões "erradas" pode nos trazer problemas. Se convivemos
com pessoas semelhantes, temos a convicção de que estamos “certos”.
3) Prevemos melhor o comportamento do outro se
esse outro for "semelhante" e desenvolvemos expectativas de relações
agradáveis e recompensadoras com esse “semelhante”.
4) Se encontramos alguém que concorda conosco,
achamos que essa pessoa gosta de nós e, conseqüentemente, gostamos dela.
5) Temos necessidade de avaliar nossas
habilidades e opiniões, e, na falta de um meio objetivo, avaliamo-nos através
de comparações sociais. E, logicamente, com pessoas semelhantes.
6) A interação com os semelhantes provoca
menos conflitos, menos esforços, mas maiores ganhos. E reforços.
Há opiniões opostas.
Por exemplo, as que asseveram ser o
reforço o mais importante nas relações e quem pode nos dar isso seriam as
pessoas diferentes, pois nos levam a crescer, aprender coisas novas.
Existe também a teoria da complementaridade
ou dessemelhanças para justificar, sobretudo, o casamento: as diferenças de
personalidade podem contribuir para a atração mútua. O que explicaria a atração
seria a satisfação das necessidades. E isso aconteceria de duas maneiras: 1)
quando uma pessoa A tem um alto grau de necessidade de dominação e o outro, B,
a mesma necessidade, mas em grau baixo; ou 2) a pessoa A tem uma necessidade
muito alta e a B também muito alta, mas necessidades complementares. Exemplo: o
marido que tem necessidade de expressar hostilidade e a esposa necessidade de
sofrer humilhações, ou vice-versa.
Como veem, as relações entre as pessoas são
cheias de nuances, riquezas e conflitos, lógico. Nossa vida é cheia disto,
deste caldeirão de emoções.