Educação: uma visão neuropsicológica
* Livro: Avaliação
Neuropsicológica. Leadro F. Malloy-Diniz e col. Capitulo 5, pg 58
Sempre estamos pensando sobre
educação e aprendizagem, e procurando razões para que tudo seja feito da melhor
forma, na melhor época, e assim por diante. Quero dizer, nem todos pensando
assim, pois ainda estamos sob auspícios de pessoas que direcionam as cargas
educacionais partindo do viés político ou econômico, simplesmente.
Fico a imaginar em como Piaget,
Vygotsky e outros, mesmo antes das investigações por imagem, já pensavam na
possibilidade do cérebro funcionar em fases, desenvolvendo-se aos poucos até
atingir seu ápice. Mas que ápice é esse? De que estamos falando? Ápice
significa o que afinal de contas?
Vou apontar somente dois fatos
registrados pelos estudos neuroanatômicos, que são aproveitados pela
neuropsicologia, mas ainda não adequadamente aproveitados pelas ciências
educaionais, a fim de estimular reflexões.
Primeiro: o cérebro, para funcionar
de forma eficiente precisa que os ramos neuronais sejam revestidos de mielina,
um lipídio que permite que os impulsos nervosos sejam transmitidos de um
neurônio a outro de forma rápida. A ausência ou lesão da bainha de mielina pode
fazer com que a transmissão seja muito lenta, ou deixe de existir. Esse
revestimento de mielina somente atinge seu processo final por volta dos 21 anos
de idade, quando então é terminada a mieliinização da área frontal permitindo
o processamento cognitivo adequado, pois essa área cerebral é responsável pelos
julgamentos e planejamentos de ações. Portanto, ao longo dos anos de nossa
evolução vamos ganhando precisão e velocidade no processamento cerebral, além
do que, vamos nos socializando. Somente após esse processo é que realmente
podemos pensar num funcionamento maduro, ou adulto, como queiram. Em idade
infantil, ou juvenil, as áreas mais intensamente mielinizadas, portanto, em
melhores condições de processamento, são áreas sensoriais e motoras. O
planejamento e o julgamento de ações de forma inteligente e socializada não é
uma prioridade desse cérebro até pelo menos os 14 anos de idade, quando começa
a se tornar ápto para tanto.
Segundo: as sinapses. Sinapses
são os locais por onde os neurônios “conversam”, através de um alfabeto de
elementos químicos chamados neurotransmissores. As investigações
neurocientíficas tem verificado que o ápice da formação de novas sinapses
ocorre entre os 9 e 12 anos de idade.
Juntando as coisas, já temos
motivos de sobra para reflexões na área educacional. Mas acredito que Carmem
Flores-Mendoza foi muito feliz ao escrever* que “(…) o
ingresso em condutas antissociais nesse período afetará seu curso de desenvolvimento, principalmente o cognitivo. E, como uma bola de neve, quando
as crianças afetadas se tornam adultas, elas ingressam nos grupos de alto risco
clínico e social. É por isso que ações familiares, educativas e governamentais
devem prestar atenção ao período infantil.”
Educação é tudo, mas a escola
não é tudo. Quando uma criança chega à escola, já aprendeu muito. A questão é:
aprendeu o que, e como?
Indubitavelmente a fase entre
os 9 e 14 anos é particularmente importante para a formação dos conceitos mais
fundamentais da existência humana. Pais e professores deveriam estar a par
disso para conseguirem nomear adequadamente os fatores educacionais que vão agir
nesse cérebro, antes que não haja mais tempo para corrigir o percurso.
Educamos, na verdade, o
cérebro. Lembremos disso.
Artigo muito oportuno e atual. Merece a atenção de todos, independente da faixa etária.
ResponderExcluirAntônio Carlos Faria Paz.