Décadas atrás li um livro que me marcou muito: O Fim da
Monogamia. O título, que parece negativo, na verdade não o é. O autor mostra que em
todas sociedade que quiseram terminar com o casamento, o resultado foi um fiasco. Não que haja algo
de religioso, espiritual ou divino da instituição do matrimônio (nestes tempos
politicamente corretos, o matrimonio aí é um tanto sexista, não?). Agora li um
texto na internet de Regina Navarro que me remete à traição. E resolvi levar
aos leitores. Com o diz um colega de Mariana e leitor assíduo, um tema que enseja "um debate longo e difícil, controverso e polêmico"
A questão é exclusividade nos relacionamentos amorosos. Esse é
um conflito que ocorre com frequência. Apesar de todos os ensinamentos que
recebemos desde que nascemos – família, escola, amigos, religião – nos
estimularem a investir nossa energia sexual em uma única pessoa, a prática é
bem diferente. Uma porcentagem significativa de homens e mulheres casados, ou
numa relação estável, compartilha seu tempo e seu prazer com outros parceiros.
A
antropóloga americana Helen Fisher conclui que nossa tendência para as ligações
extraconjugais parece ser o triunfo da natureza sobre a cultura. “Dezenas de
estudos etnográficos, sem mencionar inúmeras obras de história e de ficção, são
testemunhos da prevalência das atividades sexuais extraconjugais entre homens e
mulheres do mundo inteiro. Embora os seres humanos flertem, apaixonem-se e se
casem, eles também tendem a ser sexualmente infiéis a seus cônjuges.”
O professor
de ciências sociais Elías Schweber, da Universidade Nacional Autônoma do
México, reforça essa ideia. “Na infidelidade influem fatores psicológicos,
culturais e genéticos que nos levam a afastar a ideia romântica da
exclusividade sexual. Não existe nenhum tipo de evidência biológica ou
antropológica na qual a monogamia é ‘natural’ ou ‘normal’ no comportamento dos
seres humanos. Ao contrário, existe evidência suficiente na qual se demonstra
que as pessoas tendem a ter múltiplos parceiros sexuais.”
Um dos
pressupostos mais universalmente aceitos em nossa sociedade é o de que o casal
monogâmico é a única estrutura válida de relacionamento sexual humano, sendo
tão superior que não necessita ser questionado. Na verdade, nossa cultura
coloca tanta ênfase nisso, que uma discussão séria sobre o assunto dos
relacionamentos alternativos é muito rara.
Entretanto,
as sociedades que adotam a monogamia têm dificuldades em comprovar que ela
funciona. Ao contrário, parece haver grandes evidências, expressas pelas altas
taxas de relações extraconjugais, de que a monogamia não funciona muito bem
para os ocidentais. O argumento de que o ser humano é “predestinado” à
monogamia é difícil de sustentar.
Portanto,
uma vez que nós humanos nos damos tão mal com a monogamia, outras estruturas de
relacionamento livremente escolhidas também devem ser consideradas. E para não
haver mágoas e culpas é fundamental que a nossa visão do amor e do sexo seja
passada claramente para o outro desde o início do relacionamento.
Regina Navarro Linsé psicanalista e
escritora, autora de 11 livros sobre relacionamento amoroso e sexual, entre
eles o best seller “A Cama na Varanda” e “O Livro do Amor”. Atende em
consultório particular há 39 anos, realiza palestras por todo o Brasil e é
consultora e participante do programa “Amor & Sexo”, da TV Globo. Nasceu e
vive no Rio de Janeiro.