Fazenda onde nasceu o blogueiro. Foto Luis Fernando Gomes

Fazenda onde nasceu o blogueiro. Foto Luis Fernando Gomes
Fazenda onde nasceu o blogueiro. Foto Luis Fernando Gomes

quarta-feira, 31 de agosto de 2011

A Coisa está ficando preta.

Este texto foi escrito em 1979. Manmtive-o como no original. Vai lembrar alguns personagens, como Delfim Neto (depois de servir aos governos militares, virou defensor do PT) e Mequinho (maior enxadrista brasileiro).  E um eterno problema no Brasil: a inflação (agora, aparentemente, domada). O leitor poderá comparar este texto com o anterior, escrito 20 anos mais tarde (em 1999). Alguns olhares mais sensíveis poderão torcer o nariz para a linguagem nada politicamente correta. Eram aqueles tempos.

A Coisa tá ficando Preta. (Ou já ficou?)


            Nas minhas poucas décadas de existência jamais vi uma situação tão difícil,economicamente falando, para as pessoas como agora. Os salários estão sendo modificados com com uma certa elasticidade, mas nada valem diante do assustador monstro que anda sendo esta inflação galopante. As reivindicações salariais estão sendo feitas a torto e a direito (“torto e direito” é expressão, não se refere à Granja do Torto e nem ao menos ao setor direito da sociedade”), porém continuam os conflitantes problemas de sobrevivência. A vida está muito cara e tudo nos leva a crer que a coisa vai ficar cada vez mais preta.
            Não bastou a mudança de Simonsen pelo Delfim Neto. Apesar de recebido triunfalmente por certas camadas da população nem todas é claro, as boas intenções do ministro têm esbarrado em dificuldades das mais diversas. A inflação de agosto chegou quase à inadmissível casa dos  6%. No espaço de um ano, ou doze meses, a inflação beirou os 50%, calculando-se, os mais otimistas, uma inflação oficial para 79 de 60%.
            A gasolina, infelizmente o que move toda a engrenagem social, tem subido vertinosamente e o último aumento, cavalar, diga-se de passagem, vai acabar com o orçamento de todo aquele que aspirava um carrinho simples e confortável, aspiração digna de qualquer sociedade capitalista que se preze. Os carros também foram atingidos pela onda altista e, hoje, para se comprar o carrinho mais simples, são necessários mais de 40 salários mínimos. Não levando em conta as restrições do financiamento que, para a alegria de alguns, tendem a ser aliviadas a partir de umas palavras de um assessor de Delfim.
            Os alimentos, básicos ou não, estão proibitivos para um grande número de pessoas, ainda que os supermercados estejam abarrotados de pessoas que andam comprando inúmeras coisas, nas coloridas prateleiras. O astronômico preço da carne, estragada muitas vezes, como estão a denunciar os jornais da capital e do interior, está longe do alcance (palavra ilegível) terra do trabalhador. O leite, emagrecido graças ao regime delfiniano, subiu e promete subir pelo menos mais uma vez este ano. Açúcar, arroz, feijão e outros já estão se tornando sonho e não realidade para muitos. O frango, então, passa por um esquema dos mais interessantes: o seu preço acompanha a carne bovina. Se esta subiu, o frango alça vôos altíssimos, parecendo mais uma gaivota do que  um simples e caipira frango de nossos quintais ou chácaras. O ovo, então, está tão difícil de comprar quanto de botar: custa.
            De modo que todas as pessoas,  uns em maior grau, outros, menos, estão vendo a coisa ou russa ou preta. Russa, porque as notícias referentes àquele povo estão constantemente nos jornais: ou porque têm algumas bases militares em Cuba, ou porque o bailarino russo largou a mulher e a pátria ou porque os jogadores de xadrez não perdoam nem o nosso Mequinho. Preto, porque quando a coisa aperta todo mundo diz que o “trem está preto”. Uma vítima da situação caótica e insustentável foi o meu barbeiro.
            Ainda resisto, com unhas e dentes, mais dentes do que unhas, pois estas são cortadas religiosa e semanalmente, a enfrentar um cabelereiro ou cabelereira.
            Sou ainda dos antigos. De modo que freguês assíduo, uma vez por mês, conhecia o meu barbeiro desde os velhos tempos que arribei na terra de São José. Por anos a fio, o fio de sua navalha ajudou a aparar os meus cabelos que estão escasseando cada vez mais. E o preço do corte ia subindo de acordo com o custo de vida. Mas eis que numa bela ensolarada manhã (dá pra perceber que não é domingo, pois nos domingos chove) dou de encontro com a barbearia fechada e em cima da porta uma placa amarela avisa: aluga-se. Não aguentou o barbeiro o aumento constante do aluguel.
            Estava demais para o parco rendimento dele e teve que se mandar. Para onde foi, não sei. Se mudou de profissão, não se sabe. Se resolveu voltar para a terrinha, duvida-se. Tudo é mistério na magra e escura noite do barbeiro. Algo porém é certo: não aguentou o tranco e se mandou.
            Quantos terão que seguir o exemplo do barbeiro? Quantos suportarão as dificuldades econômicas que têm abatido sobre o povo? A quem interessa a chagada quase triunfal de Brizola e a mais do que triunfal (esperam os nordestinos) vinda de Arraes? Ou se existirá um Arenão? Ou se o MDB vai para a cucuia? Nada disto chama a atenção das pessoas. O que elas querem é um custo de vida mais baixo, pois senão a vida vai ficar mesmo pretíssima.

Mário Cleber Silva
15/09/1979.

domingo, 28 de agosto de 2011

Inteligência Emocional

Em 1997, quando foi lançado o livro “Inteligência Emocional”, no Brasil, eu o devorei. Afastado do trabalho por causa de uma cirurgia, fiquei entusiasmado com sua leitura e acabei preparando um curso de Inteligência Emocional, que promovi durante os anos seguintes. Uma vez, uma psicóloga da Fiemg me pediu um resumo do livro em duas páginas e escrevi o texto abaixo.

INTELIGÊNCIA EMOCIONAL


            Ao publicar seu livro, Inteligência Emocional, em 1995, Daniel Goleman acrescentou um subtítulo: “A teoria revolucionária que define o que é ser inteligente”. Ele queria mesmo chamar a atenção do leitor de que os conceitos conhecidos sobre inteligência estariam, no mínimo, abalados com a ideia de QE ou Quociente Emocional, em oposição ao tão falado QI (Quociente de Inteligência). E ele não estava errado.
            Calcado em experiências e pesquisas múltiplas e demoradas, Goleman lançou outros livros, entre eles: “Trabalhando com a Inteligência Emocional”, e mostrou com dados estatísticos que o QE é muito mais importante para o sucesso e felicidade na vida do que o QI. Aliás, QI e felicidade não estão lado a lado na vida de ninguém. E lançou uma frase de efeito: dar inteligência às suas emoções.
            Tomando emprestada uma frase de Aristóteles: “Qualquer um pode zangar-se, isso é fácil. Mas zangar-se com a pessoa certa, na medida certa, na hora certa, pelo motivo certo e da maneira certa, não é fácil”, o autor nos conduz a uma trajetória das emoções da vida dos seres humanos. Desde os primórdios, os primatas não poderiam pensar diante de um animal (ou aquilo me come ou eu como aquilo), quando as emoções foram essenciais para a sobrevivência, até o momento atual da pouca inteligência de nossas emoções no dia-a-dia.
            Em uma de suas palestras, ele conta a história de um homem, numa cadeira de rodas, com as pernas amputadas, numa estrada americana, pedindo esmola. Goleman lhe estende então uma nota de 1 dólar. O vento a leva para longe enquanto seu carro está de partida. Ele olha pelo retrovisor e vê o motorista que vem atrás parar, descer do carro, pegar a nota e entregá-la ao homem de cadeira de rodas. Isso é brilhantismo emocional.
            É isso que Goleman e todos que falam da Inteligência Emocional querem que aconteça: ampliar nossas competências emocionais. Nestes livros o autor discorre profundamente sobre o cérebro, órgão estudado exaustivamente nestes últimos tempos, o crescente  conhecimento da natureza da inteligência emocional e de sua aplicabilidade (família, trabalho, amizade, e também saúde). O temperamento recebe um enfoque interessante com a nova percepção das emoções e, no meio dessas informações, vários casos são relatados, com um sabor pouco usual, em livros considerados “áridos”.
            Resumidamente, podemos apresentar os cinco passos para o controle das emoções:

1)      Auto-consciência. É preciso distinguir bem entre o que sentimos e o que sabemos, pensamos. Isto possibilitaria uma decisão correta para nossas ações. Quando o cérebro é afetado por alguma lesão, perde-se a capacidade de saber qual a melhor atitude, a melhor posição a ser tomada.

2)      Lidar com os impulsos. Ele narra a experiência de crianças que foram colocadas diante de um marshmellow com a seguinte observação: se ficassem sem comê-lo por quinze minutos, eles receberiam um outro marshmellow. Algumas crianças não esperaram e foram logo comendo. Outros fizeram todo o possível para se distrair e não comer. Muito bem, essas crianças foram acompanhadas e, anos mais tarde, percebeu-se que aqueles que controlaram seus impulsos eram adolescentes mais equilibrados, com melhores notas na escola, mais solitários e de melhor relacionamento com os colegas. Posteriormente, como adultos, eram mais bem sucedidos.

3)      Otimismo e motivação: Urge que se aprenda a pensar de forma otimista. Diante de um fato, uma situação, deve-se encará-la como circunstancial e não fatal e eterna. Uma criança diante de uma nota baixa, se for pessimista, vai pensar: eu sou burro, não aprendo, não presto (e os pais também reforçam tais pensamentos). Se for otimista, pensará: devo estudar mais, me preparar melhor.

4)      Empatia. É saber o que o outro sente sem ter que perguntar. É essa empatia que evita que façamos mal aos outros. É tentar colocar-se no lugar do outro e sentir o que ele está sentindo.

5)      Relacionar-se. Saber lidar com as emoções dos outros. Resolver conflitos de modo criativo. Não reagir no mesmo tom da emoção negativa do outro. Se não pudermos mudar as coisas (ou o comportamento do outro), podemos mudar a forma, o modo como lidar com essas coisas (ou comportamento).

            Que esses conceitos ajudem os leitores a fazer uma reflexão e ampliar sua Inteligência Emocional.

terça-feira, 23 de agosto de 2011

O Sucesso consiste em...

Leio este autor desde a década de 90, do século passado. Ele tem momentos bem interessantes. Lado irônico e seu tom humorístico conquistam os leitores. Eis algumas dicas para quem está trabalhando.

O Sucesso consiste em não fazer Inimigos
Max Gehringer

Nas relações humanas no trabalho, existem apenas 3 regras:
Regra número 1:
Colegas passam, mas inimigos são para sempre. A chance de uma pessoa se lembrar de um favor que você fez a ela vai diminuindo à taxa de 20% ao ano. Cinco anos depois, o favor será esquecido. Não adianta mais cobrar. Mas a chance de alguém se lembrar de uma desfeita se mantém estável, não importa quanto tempo passe. Exemplo: Se você estendeu a mão para cumprimentar alguém em 1999 e a pessoa ignorou sua mão estendida, você ainda se lembra disso em 2009.

Regra número 2:
A importância de um favor diminui com o tempo, enquanto a importância de uma desfeita aumenta. Favor é como um investimento de curto prazo. Desfeita é como um empréstimo de longo prazo. Um dia, ele será cobrado, e com juros.
Regra número 3:
Um colega não é um amigo. Colega é aquela pessoa que, durante algum tempo, parece um amigo. Muitas vezes, até parece o melhor amigo. Mas isso só dura até um dos dois mudar de emprego. Amigo é aquela pessoa que liga para perguntar se você está precisando de alguma coisa. Ex-colega que parecia amigo é aquela pessoa que você liga para pedir alguma coisa, e ela manda dizer que no momento não pode atender.
Durante sua carreira, uma pessoa normal terá a impressão de que fez um milhão de amigos e apenas meia dúzia de inimigos. Estatisticamente, isso parece ótimo. Mas não é! A 'Lei da Perversidade Profissional' diz que, no futuro, quando você precisar de ajuda, é provável que quem mais possa ajudá-lo é exatamente um daqueles poucos inimigos.
Muito cuidado ao tentar prejudicar um colega de trabalho; Amanhã ou depois você pode depender dele para alguma coisa!

Portanto, profissionalmente falando, e "pensando a longo prazo, o sucesso consiste, principalmente, em evitar fazer inimigos. Porque, por uma infeliz coincidência biológica, os poucos inimigos são exatamente aqueles que têm "boa memória.

"Na natureza não existem recompensas nem castigos. Existem consequências."









sábado, 20 de agosto de 2011

AMIGO DE SI MESMO

Que bom este tempo da internet. Recebo ótimos emails e textos muito bem elaborados. Este, recebi-o de uma leitora e colega do Curso de História e Atualidades, na Uemg. Ela comenta sobre um livro e sua escrita é muito boa. Transcrevo o email.
Amigo de Si Mesmo

Em seu recém-lançado livro Quem Pensas Tu que Eu Sou?, o psicanalista Abrão Slavutsky reflete sobre a necessidade de conquistar o reconhecimento alheio para que possamos desenvolver nossa autoestima.

Mas como sermos percebidos generosamente pelo olhar dos outros?

Os ensaios que compõem o livro percorrem vários caminhos para encontrar essa resposta, em capítulos com títulos instigantes como Se o Cigarro de García Márquez Falasse, Somos Todos Estranhos ou A Crueldade é Humana.

Mas já no prólogo o autor oferece a primeira pílula de sabedoria.

Ele reproduz uma questão levantada e respondida pelo filósofo Sêneca: “Perguntas-me qual foi meu maior progresso? Comecei a ser amigo de mim mesmo”.

Como sempre, nosso bem-estar emocional é alcançado com soluções simples, mas poucos levam isso em conta, já que a simplicidade nunca teve muito cartaz entre os que apreciam uma complicaçãozinha.

Acreditando que a vida é mais rica no conflito, acabam dispensando esse pó de pirilimpimpim.

Para ser amigo de si mesmo é preciso estar atento a algumas condições do espírito. A primeira aliada da camaradagem é a humildade.

Jamais seremos amigos de nós mesmos se continuarmos a interpretar o papel de Hércules ou de qualquer super-herói invencível.

Encare-se no espelho e pergunte: quem eu penso que sou?

E chore, porque você é fraco, erra, se engana, explode, faz bobagem. E aí enxugue as lágrimas e perdoe-se, que é o que bons amigos fazem: perdoam.

Ser amigo de si mesmo passa também pelo bom humor. Como ainda há quem não entenda que sem humor não existe chance de sobrevivência? Já
martelei muito nesse assunto, então vou usar as palavras de Abrão Slavutsky:

“Para atingir a verdade, é preciso superar a seriedade da certeza”. É uma frase genial. O bem-humorado respeita as certezas, mas as transcende. Só assim o sujeito passa a se divertir com o imponderável da vida e a tolerar suas dificuldades.

Amigar-se consigo também passa pelo que muitos chamam de egoísmo, mas será? Se você faz algo de bom para si próprio estará automaticamente
fazendo mal para os outros? Ora.
Faça o bem para si e acredite: ninguém vai se chatear com isso.
Negue-se a participar de coisas em que não acredita ou que simplesmente o aborrecem.

Presenteie-se com boa música, bons livros e boas conversas.

Não troque sua paz por encenação.

Não faça nada que o desagrade só para agradar aos outros.

Mas seja gentil e educado, isso reforça laços, está incluído no projeto “ser amigo de si mesmo”.
Por fim, pare de pensar. É o melhor conselho que um amigo pode dar a outro: pare de fazer fantasias, sentir-se perseguido, neurotizar relações, comprar briga por besteira, maximizar pequenas chatices, estender discussões, buscar no passado as justificativas para ser do  jeito que é, fazendo a linha “sou rebelde porque o mundo quis assim”.
Sem essa. O mundo nem estava prestando atenção em você, acorde. Salve-se dos seus traumas de infância.

Quem não consegue sozinho, deve acudir-se com um terapeuta. Só não pode esquecer: sem amizade por si próprio, nunca haverá progresso possível, como bem escreveu Sêneca cerca de 2.000 anos atrás. Permanecerá enredado em suas próprias angústias e sendo nada menos que seu pior inimigo.

quarta-feira, 17 de agosto de 2011

Greve dos Professores Mineiros.

Os professores mineiros fizeram uma greve bem longa, o que tem sido comum há dezenas de anos, por aqui. E nem os professores aprendem e nem os governantes: não se leva a sério a educação neste país.
O texto, a seguir, recebi-o via email, numa alusão crítica a um desconhecimento cultural de um candidato a emprego. Adaptei e acrescentei uma ou outra coisa.                             
Voltando às Aulas Depois da Greve
Recém formado, mas culto e estudioso, não ia perder a chance de substituir os professores grevistas. Sabia que podia estar dando um tiro no pé, furando esta greve que durava mais de 60 dias, mas o que fazer? Tinha que pagar as prestações do celular da última geração (CelBlet, mistura de Celular com Tablet) e a TV de Plasma TSHDTV (The Slimmest High Definition Tee Vee) de 40 polegadas para a mãe ver a Rede Vida ou os programas protestantes que pipocam na rede (era acender uma vela a deus e outro ao diabo, se bem que não sabia quem era quem neste cipoal de religiões). Além do mais queria ajudar a estes jovens estudiosos e cultos que ficariam sem participar do Enem, o que prejudicaria o futuro promissor destes moços e moças em algum ministério em Brasília.
Na primeira aula, depois da leitura com uma presença em peso (aliás ponha-se peso nisto, já que a gordura em volta das cinturas e de outras partes dos alunos transformou-os em peso pesados, visto terem ficado em casa, comendo salgadinho e vendo Tevê) dos estudantes, resolveu fazer um pequeno teste de conhecimentos gerais e de história. Começaria pelo da frente da primeira fileira e ia assim, andando e perguntando, por toda a sala.
- Quem foi Stalin?
- Um cara que cantava estalando os dedos.
Espantou-se. Ouviram-se palmas.
- E Lênin?
- Tocava nos Beatles.
- Você  não quer dizer Lennon?
- Esse fazia dupla com a Lilian.
- Ah... Leno!
- Não... Cantano.              (rsrss)
Mais espanto e mais palmas. Admoestou: não precisa bater palmas; só acertar (sentiu a ironia saindo junto com as palavras).
- Vamos mudar de assunto. O que é equação?
- É a arte de montar uma égua.
- E equitação?
- É quando a gente paga todas nossas dívidas.
- O que é um quelônio?
- É um tipo de mineral radioativo.
- Não seria plutônio?
- Não... esse é o nome completo do cachorro do Mickey.
(Ai, ai, ai. Será que aguento? Até no pensamento, não colocava mais trema no u).
- O que é fotossíntese?
- Denominação técnica para um retratinho 3 x 4.
- O que é um símio?
- Um cara que nasceu na Símia.
- Na Símia? E qual é a capital da Símia?
- Ameixa
(Bem a fruta mais próxima seria Damasco).
- Quem era Pancho Vila?
- Companheiro de Dom Caixote.
- O que é um caudilho?
- Um osso que tem na ponta da coluna e segundo os cientistas, comprova que o homem tinha rabo e descende do macaco.
- Onde fica a vesícula?
- Debaixo da clavícula.
- Onde ficam os glúteos e para que servem?
- Ficam na garganta e servem para engolir.
(Você tem engolido muito por lá? – quase perguntou, mas percebeu que, no lugar de falar, dera um sorriso malicioso. “Acho que vou assistir os programas de religião com mãeinha”)
- Onde fica o baço?
- Não é baço. É braço. São dois e ficam antes das mãos.
- Para que servem as fibras óticas?
- Para movimentar os olhos.
- Onde fica o Triângulo das Bermudas?
- Qualquer costureira sabe: entre o cós e o gavião.
- Quem descobriu a Lei da Gravidade?
- Um médico ginecologista francês, o Dr.Jeckyl.
- Putz! E quem é Dilma?
- É Dilmaquinista, do programa da Rede Bobo “Morra Total”.
(Nossa, trocaram o Z pelo M. Ainda bem. Se fosse outra letra... – Riu de novo aquele risinho malicioso)
- O nome do programa está errado – falou um aluno.
- Ah, é? Mas antes, qual é o seu nome, meu caro aluno, e por que está com este sorriso no rosto?
- Joãozinho.
- Não precisa falar. Não precisa falar. – Isto ele disse, enquanto se sentia aliviado ao ouvir o sino tocar dando por encerrada a aula e também a sua profissão de professor substituto de professor grevista no Estado.

domingo, 14 de agosto de 2011

Ode a Belo Horizonte.

Tive quatro cidades adotivas: Juiz de Fora, Mariana, Belo Horizonte e São José do Rio Preto. Belo Horizonte, ou BH, a mais querida. Uma vez li uma Ode a Uberaba, onde o autor falava da região de Uberaba, de A a Z. Como BH é definida nos aeroportos como BHZ, pensei que uma ode A BH Z contemplava BH de A a Z. Minha mestra em literatura, achou interessante, e então resolvi compartilhar com vocês neste meu dia, dia dos pais.


ODE A BH Z
Arrudas, Andradas, Amazonas, Afonso Pena: artérias.
Belos horizontes, alvoreceres e entardeceres
Contorno, Cristóvão Colombo, Carandaí: caminhos de Curral Del Rey.
Divas, deuses, demônios, donas de casa, domésticas. Desempregados.
Eustáquio, santo. Engarrafamento: diabólico.
Feiras: hippy, das flores, da alimentação.
Gentes das gerais, geniais.
Heróis, milhões, desconhecidos. Um, enforcado.
Igrejas: São José, Boa Viagem, Lourdes, do Carmo, de são Francisco.
Jabuticabas: no pé ou em latas de litro.
Lagoinha, Luxemburgo, no meio a Lagoa da Pampulha.
Mineirão, Maleta e metrô: lotados. Museus, nem tanto.
Negócios, na Caetés, Carijós, mercados e shoppings.
Olhos, de Hilton Rocha.
Queijo, quitutes, quitandas.
Pirulito, parque, Palácio das Artes, Praça do Papa: pontos pitorescos.
Ruas: esburacadas, apinhadas, do Amendoim.
Savassi, Serralheria Sousa Pinto, Sorveteria São Domingos.
Tutu, tropeiro, torresmo: trem bão.
UFMG, Universidade por excelência, uai.
Viaduto da Floresta, viola e violões.
Xisburguer no Xodó.
Zoológico de bichos e de homens, de BH.

quarta-feira, 10 de agosto de 2011

Conversa de Idosos - numa pequena cidade interiorana.

Em qualquer lugar você pode ouvir algo, presenciar uma cena e aproveitar para escrever um caso, conto ou historinha. Veja só o que me aconteceu (boa parte foi inventada).

CONVERSA DE IDOSOS.

Era o primeiro dia útil do mês e a fila de aposentados no banco começara cedo, antes mesmo que a porta giratória fosse aberta. O atendimento se fazia, lenta e morosamente, nos terminais, onde o vigilante – saindo de suas funções – ajudava as trêmulas mãos a digitarem os números da conta e virava o rosto para o cliente, “catando milho”, clicar os números da senha. Pouco afeitos à tecnologia, eles demoravam muito. Aos outros sobravam o silêncio, a paciência e o olhar distraído, até que:
- “Seo”, Zé, o senhor por aqui? – um homem reconheceu o velho da fila, e emendou: como vai?
- Mais ou menos – o homem respondeu secamente.
- E a dona Maria? – o homem queria mesmo puxar conversa.
- Separamos.
- Nesta idade?
- Pois ela. Ela me aprontou uma cachorrada.
(Acho que houve um silêncio quase – me desculpe a palavra, em respeito às idades avançadas deles – sepulcral)
- O quê??? – o homem estava incrédulo – Além de velha e feia, sem vergonha?
Desta vez houve risos, risinhos e até uma ameaça de gargalhada.
- Isto mesmo, a cachorra. Mas não tem problema, não. Vou arrumar outra namorada.
- É? – ele ficou mais incrédulo.
- Já vou colocar na rádio. Como não sei usar essa tal de internet, vou por na rádio.
- Mas o que tem para oferecer a ela? – este sujeito era mesmo impertinente.
- Minha casa e minha aposentadoria, quando morrer.
- E muito reumatismo. – Falou alguém no final da fila. Ninguém riu, porém.
- O que é isso? – falou o idoso. – Reumatismo é coisa de velho de antigamente. Hoje seria Alzheimer.
- Ou Parkinson – falou o incrédulo impertinente.
- Ataque cardíaco. – falou outro.
- AVC.
- Um cancerzinho.
- Vamos parar com este converseiro e esta bagunça aí.
Todos voltaram o rosto e viram o gerente pondo ordem e respeito naquele templo materialista, o banco.

sexta-feira, 5 de agosto de 2011

Curiosidades sobre o Sono

O Sono é importantíssimo em nossa vida. De vez em quando deparo com alguns textos curiosos, e este, sem dúvida, é interessante, ao falar sobre o sono.

CURIOSIDADES SOBRE O SONO.
O que acontece com nosso cérebro quando dormimos? O sono é crítico para a nossa capacidade de aprendizagem, consolidando o que memorizamos ao longo do dia e preparando o cérebro para absorver novas informações. Por isso, um sono adequado faz parte de um estilo de vida saudável para o cérebro. Mas agora vamos abordar algumas curiosidades sobre o sono.
Você já ouviu a expressão “dormir com um olho aberto”? Pois é, cientistas descobriram que alguns pássaros possuem essa habilidade para se proteger do ataque de predadores. E, falando de ataque, saiba que para certas pessoas o sono pode ser perigoso, existindo até casos onde pessoas cometem assassinato enquanto dormem. Mas a cura pode não estar longe, pois já existem tratamentos eficazes e, recentemente, os cientistas que estudam esses tipos de distúrbios do sono até fizeram uma descoberta fascinante relacionando esses distúrbios com a doença de Parkinson.
Um grupo de pesquisa do Instituto Max Planck de Ornitologia provou que algumas aves conseguem dormir com um olho aberto. Uma das experiências realizadas foi com patos, onde foram colocados numa fila, lado a lado, e verificou-se que os patos que estavam nas pontas mantinham um dos olhos, justamente o que estava virado para o lado oposto ao grupo, aberto enquanto dormiam. Essa é uma forma que a natureza encontrou para essas aves se protegerem dos seus predadores.
As pesquisas desse grupo identificaram que, assim como os mamíferos, as aves possuem basicamente dois tipos de sono: o sono de ondas lentas e o sono REM (acrônimo de movimento rápido dos olhos). No caso das aves, enquanto o sono de ondas lentas pode ocorrer alternadamente em cada um dos hemisférios cerebrais, o sono REM sempre ocorre simultaneamente nos dois hemisférios. Assim, no primeiro caso, enquanto um dos hemisférios dorme, o olho ligado ao hemisfério acordado permanece aberto num estado meio acordado.
Apesar dos humanos obviamente não possuírem essa habilidade, o Dr. Rattenborg, líder desse grupo de pesquisas, comenta que partes do cérebro humano podem dormir mais profundamente. Por exemplo, se um braço passar por um treinamento físico mais rigoroso, a área do cérebro ligada a esse membro terá um sono mais profundo.
Continuando no assunto do sono, todo mundo já ouviu falar de sonambulismo, um tipo comum de distúrbio do sono, ou parasonia, que também inclui a agressão noturna e o terror noturno. Um caso emblemático foi o de Ken Parks, do Canadá, que em 1987 saiu da sua cama, dirigiu 23 km até a casa de seus padrastos, onde matou sua madrasta e feriu seu padrasto. Ele foi julgado e absolvido sob a defesa de sonambulismo.
Parasonias desta natureza ocorrem porque o processo de atonia REM, a paralisia generalizada dos músculos esqueléticos que ocorre com todas as pessoas enquanto dormem, deixa de funcionar, fazendo com que elas encenem seus sonhos. Esse processo é necessário para que o corpo não se mexa durante os sonhos, de forma a evitar ferimentos, e ele ocorre não apenas nos seres humanos, mas também em todos os mamíferos.
De acordo com o Dr. Carlos Schenck, muitas pessoas diagnosticadas com parasonia conseguem ser tratadas de forma bem sucedida com medicamentos. Porém uma descoberta interessante dele e de sua equipe foi a relação destes tipos de distúrbios com a doença de Parkinson. Segundo seu estudo, 81% dos casos de distúrbio do sono REM evoluem para doença de Parkinson, criando uma oportunidade interessante de intervenção precoce para a doença de Parkinson e ampliando as possibilidades de pesquisa.



segunda-feira, 1 de agosto de 2011

Após a volta das férias, minhas e dos leitores, vou postar um texto meu, escrito há muito tempo, mas que andei atualizando. É uma homenagem a alguém de quem gosto e que foi muito importante na minha vida.

Fernando,meu tio.


Era um pouco mais velho do que eu, calculo, uns dez anos. (A gente nunca pergunta a idade do tio. Olha o respeito.) A lembrança mais antiga que guardo de minha infância é nos ombros dele, descendo da casa da minha avó para a minha casa. Era manhã de um frio inverno andrelandense. Igual a um cavalinho, lá íamos nós, trotando rua abaixo. Toc, toc, toc. Eu devia ter na época três anos e ele uns treze. Um ou outro passeio na fazenda de meu avô era acompanhado pelo Fernando, que ficava por lá me protegendo de algumas vacas meio bravas, espantando os porcos que não sofriam de peste suína, e me arrumava um leitinho quente, tirado na hora.
Quando eu estava no terceiro ano primário, no antigo Colégio São Boaventura, ele fazia o científico (para os mais novos, equivale ao curso médio). Uma vez fui à sala dele e fiquei espantado de ver tanta gente grande junta e surpresa ao ver um esqueleto e alguns órgãos na aula de anatomia. Eu era o menor aluno do colégio. Nas paradas de Sete de Setembro eu ficava lá atrás, batendo os pés, como se marchasse, e ele na frente. Não sei se na banda ou não, porque ninguém na família tocava qualquer instrumento. O máximo que alguém conseguiu em termos musicais era quando eu tocava a campainha na hora da missa. E diziam, desafinado.
Em casa, falavam-me: “Você é igual ao Fernando”. O que me enchia de orgulho. Afinal ele era inteligente, falava algumas coisas em inglês, ouvia música clássica e tinha uma namorada. Quem sabe no futuro eu também arrumaria uma namorada, falaria inglês e escutaria música clássica.
Lembro-me de que namorava a Julieta, lá no jardim, e às vezes eu estava por perto (seria para aprender a namorar? Me perguntou meu primeiro analista. Deixei-o sem resposta). Foi com ele que aprendi as primeiras palavras em inglês. Ia fazer onze anos, e eleven foi a primeira que aprendi.
Quando foi fazer o Tiro de Guerra em Itajubá, ficava imaginando por que alguém tinha de sair de casa e ir para um lugar tão distante, do qual a gente pouco ouvia falar. Voltava de vez em quando de cabeça raspada e de uniforme verde-oliva. Uma beleza. Olha lá- falava eu para os amiguinhos-, o meu tio é cabo.
-Cabo de vassoura?- perguntavam os invejosos.
Ia bravo em cima dos meninos e acabava apanhando. Chegava em casa com os inevitáveis óculos quebrados.
Era o crânio da família. Sabia de tudo; era quase uma enciclopédia ambulante. Qualquer coisa que lhe fosse perguntado, lá vinha a resposta na ponta da língua. Nas minhas férias de seminário, o primeiro a quem visitava era ele. Contava os grilos que ocorriam naquele santo educandário, comentava sobre as minhas crises de fé , foi ele quem escreveu meu primeiro discurso no Grêmio Acadêmico, saudando o Cardeal Mota e ainda por cima acabava ouvindo alguns discos de música clássica ou mesmo os tangos, muito antes de Brando e Schneider assustarem os cinéfilos com o Último Tango em Paris.
Na época da revista Realidade, enquanto visitava o seu escritório de contabilidade, o assunto era o Vietnã, as eleições presidenciais americanas, o movimento hippie, a crise na Igreja e outros babados nacionais e internacionais.
Até que surgiu no horizonte a freira Ângela. Seminarista maior e muito dedicado, enquanto não saía para o mundo, todos ficavam satisfeitos com a religiosidade que apresentava nos cultos e cerimônias litúrgicas. Daí ser o seminarista mais convidado para ajudar nas missas em colégios de freiras e de meninas donzelas. Gostava de ir também por causa do café da manhã depois da missa, que era muito reforçado: laranjada, dois ovos quentinhos, que a gente tomava de um gole só, lambendo e estalando os beiços de  contentamento ( havia um boato de que um bispo tomava uma dúzia de ovos de manhã), pão sem bromato (é bom que se diga, se bem que padeiros honestos juram de pés juntos que nunca usaram bromato)), manteiga mesmo ( nada de margarina ensebada), café sem aditivo e leite com 3 % ou mais de gordura – nada de leite desnatado. Ah, a gente saía com a barriga satisfeita( ia dizer “cheia”, mas comadre Anita me disse que não se pode falar “cheia”; é satisfeita) e com a consciência do dever cumprido. Até que um dia, ao ajudar na comunhão das freiras, caí duro. Ou quase. Uma linda freirinha da minha idade, toda sorrisos. Ah, mandei a batina para as Cucuias e saí atrás da freira. Era esse mais ou menos o script de meu segundo romance (o primeiro é abominável; não ouso nem dizer o nome). Mostrei-o para Fernando. Havia conotações psicológicas, cenas pesadas, etc. Era para ele apreciar e prefaciar.
-Nossa, está pesado demais- falou Fernando, meu tio.- Não dá para prefaciar.
É por isso que não ganhei o Nobel de Literatura antes do Saramago. Era muito pesado, mesmo na época do Último Tango em Paris. Culpa também do meu tio.