Fazenda onde nasceu o blogueiro. Foto Luis Fernando Gomes

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sexta-feira, 28 de janeiro de 2011

Como as coisas mudaram! De tanto passar a mão na cabeça, estamos formando um futuro doente ou delinquente!


Psicologia, 1959 X 2010

Cenário 1: João não fica quieto na sala de aula. Interrompe e perturba os colegas.

1959: É mandado à sala da diretoria, fica parado esperando 1 hora, vem o diretor, lhe dá uma bronca descomunal e volta tranquilo à classe. 

2010: É mandado ao departamento de psiquiatria, o diagnosticam como hiperativo, com transtornos de ansiedade e déficit de atenção em ADD, o psiquiatra  lhe receita  Rivotril. Se transforma num Zumbí. Os pais reivindicam uma subvenção por ter um filho incapaz. 

Cenário 2: Luis quebra o farol de um carro no seu bairro.

1959:  Seu pai tira a cinta e lhe aplica umas sonoras bordoadas no traseiro... A Luis nem lhe passa pela cabeça fazer outra nova "cagada", cresce normalmente, vai à universidade e se transforma num profissional de sucesso.

 2010: Prendem o pai de Luis por maus tratos. O condenam a 5 anos de reclusão e, por 15 anos deve abster-se de ver seu  filho.   Sem o guia de uma  figura paterna, Luis se volta para a droga, delinque e fica preso num presídio especial para adolescentes. 

 Cenário 3: José cai enquanto corria no pátio do colégio, machuca o joelho. Sua professora Maria,  o encontra chorando e o abraça para confortá-lo...

1959: Rapidamente, João se sente melhor e continua brincando.

 2010: A professora Maria é acusada de abuso sexual, condenada a três anos de reclusão. José passa cinco anos de terapia em terapia. Seus pais processam o colégio por negligência e a professora por danos psicológicos, ganhando os dois juízos. Maria renuncia à docência, entra em aguda depressão e se suicida...  

Cenário 4: Disciplina escolar

1959: Fazíamos bagunça na classe... O professor nos dava umas boa "mijada" e/ou encaminhava para a direção; chegando em casa, nosso velho nos castigava sem piedade.

2010: Fazemos bagunça na classe. O professor nos pede desculpas por repreender-nos e fica com a culpa por fazê-lo . Nosso velho vai até o colégio se queixar do docente e para consolá-lo compra uma moto para o filhinho. 

 Cenário 5: Horário de Verão.

1959:Chega o dia de mudança de horário de inverno para horário de verão. Não acontece nada. 
2010: Chega o dia de mudança de horário de inverno para horário de verão. A gente sofre transtornos de sono, depressão, falta de apetite,  nas mulheres aparece celulite. 

 Cenario 6: Fim das férias.

1959: Depois de passar férias com toda a família enfiada num Gordini ou fusca, após 15 dias de sol na praia, hora de voltar. No dia seguinte se trabalha e tudo bem.

2010: Depois de voltar de Cancún, numa viajem 'all inclusive', terminam as férias e a gente sofre da síndrome do abandono, pânico, attack e seborreia...


Mudamos nós ou Mudou a Psicologia?

Um querido amigo, leitor assíduo do blog, me enviou este texto que passo para a consideração de vocês que, amavelmente, me acompanham em meus escritos quase hebdomadários.

segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

Meu Método de Aprender Inglês.

Sabemos que o inglês é importante como língua falada em quase todos os cantos do mundo. Aprender inglês (ou outra língua) não é fácil. É é caro. Quando comecei a fazer seleção na Fiat, 1 em cada 10 candidatos de nível superior já tinha estudado no Exterior. 15 anos depois, eram 8 em cada 10. Ou a situação financeira dos pais melhorou, ou ficaram mais baratos os cursos lá fora ou houve mais interesse. Visando preencher esta lacuna, bolei um método eficiente para aprender a língua da Rainha (ou do Obama).  Foi uma crônica escrita para o meu livro.

Como foi que aprendi inglês. Ou o meu método eficiente de aprender um idioma estrangeiro

Inúmeros colegas de profissão andaram me perguntando como foi que eu tinha aprendido inglês, depois de ter sido intérprete de um psicólogo que veio falar de sonhos exóticos aqui em Belo Horizonte. Atendendo, então, a pedidos mil, passo a contar a minha história.
Não nasci em nenhuma cidade americana. Nada de Andrewcity ou Andrewland. Não, nasci na pacata cidade de Andrelândia, mais precisamente no Morro de Santo Antônio. Meus pais não falavam bulhufas de inglês, e o “S” de meu sobrenome não significa Smith, como muita gente maldosa andou pensando. (Já repararam como gente maldosa pensa demais?) O único da família que arranhava inglês era o meu tio Ferdinand, quero dizer Fernando. Portanto, não nasci falando inglês, o que seria admirável e até milagroso. Menos do que a mãe de certo presidente que nasceu analfabeta. O meu  bê-á-bá  foi no português mesmo, e foi somente aos onze anos, quando entrei na primeira série ginasial (naquela época tinha-se de fazer o admissão, por isto é que entrei com onze anos no antigo ginásio), que me deparei  com esta   língua muito estranha. Aí começou o meu método.
            A primeira palavra que aprendi em inglês foi eleven, que significa 11 (por causa da minha idade). Para decorá-la, fiz uma relação com a marca de um sabonete d’então (me desculpe o Jânio Quadros): Lever. Era só lembrar do sabonete, e lá vinha o meu “eleven”. O meu primeiro professor de inglês foi um padre americano chamado Meldon. Ele dizia que tinha nascido em Boston e se criado em Chicago. E até hoje não sei por que sempre sentia um cheirinho ruim quando me aproximava dele... Os americanos e, logicamente, os ingleses têm mania de complicar as coisas. Em vez de segunda-feira, domingo, sábado, nomes fáceis de guardar e falar, eles usam outros nomes complicados e esdrúxulos. Terça-feira, por exemplo, me lembrava a frase “Tu és Deus”, e logo vinha a palavra Tuesday. Saturnino, um colega de sala, me lembrava Saturday, sábado.
E assim fui ligando uma palavra com outra. Até que entrei no seminário. Um belo dia, desafiando o preconceito de quem aprendesse inglês saía do seminário, resolvi apostar com um colega que aprenderia inglês em um mês. Nas férias de julho, no quintal lá de casa (ter quintal em casa é bem difícil ultimamente, e um ótimo local para se aprender língua estrangeira), peguei uma English Grammar e comecei a decorar o vocabulário, falando alto as palavras. Num mês, já tinha um vocabulário imenso e uma facilidade incrível para me lembrar. Mas eu também, sem falsa modéstia, castigava um pouco o francês, e não sabia para que lado pender, ou que língua falar. Certa vez fui assistir a uma peça de teatro levada por uma turma de franceses. Armei-me de coragem e fui conversar com um dos atores. Ele me perguntou num francês de muito biquinho: Avez-vous aimez l’apresentation ? (Gostou da peça? - tradução para os mais incultos).  
E eu lépido: More or less. Estava selada a minha sorte. Só podia aprender a língua de Skakespeare.
            Aí, fui para os Estados Unidos. No primeiro mês, fiquei como aquele português da anedota: mudo. Esquecera o português e não aprendera o inglês. Lá aprendi várias coisas. Por exemplo: tomar cuidado com as palavras shirt, piece, peace e fork, pois se não as pronunciarmos de maneira certa viram palavrão. Quanto mais depressa você falar, mais será entendido; e que não é preciso falar corretamente. Assim, se você pegar um elevador no octagésimo  andar do Empire State e quer ir para o térreo, basta perguntar a alguma pessoa: “Dona Éster”?, bem rápido. E ela entenderá dowstairs (isto é, para baixo). Se quiser comer alguma coisa de manhã, é só chegar perto do garçom (que pode ser um brasileiro, pois tem muito brasileiro lá trabalhando de garçom, mas não dê o braço a torcer: não fale português de jeito nenhum) e falar bem rapidinho: “Naminegues”. Ele vai pensar que você pediu ham and eggs (presunto e ovos) e lhe trará este tão apetitoso prato.
Ao deixar a gorjeta para o garçom, que deve ser pequena, porque hoje só os árabes dão gorjeta grande e polpuda, agradeça dizendo: “Tranque o velho e mate”. O cara vai entender thank you very much (muito obrigado), e vai achar você muito educado.
  Depois do meu estágio americano, quando consegui engordar bastante (por causa da comida), entortar a boca para falar melhor a língua e ver filmes americanos sem ler as legendas mal traduzidas, estou pronto a dar conselhos aos jovens e aos meus nobres  colegas de como aprender a língua do “sei que espirro”, quero dizer, Shakespeare. E para terminar, uma frase em bom inglês: sayonara Obama Laden, isto é: Tudo na santa paz, como antigamente.







quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

FALAR A VERDADE

Sempre nos ensinaram a falar a verdade. Mas não ensinaram  como dizê-la, sem incorrer em ofensa ou perigo para a gente mesmo. Quando estava no Seminário, o Reitor me perguntou porque não fiz ginástica. Podia ter mentido, dizendo que estava passando mal, com dor de cabeça. Fui falar a mais pura e cristalina verdade: não fiz porque não quis. Quase fui expulso. Abaixo, segue uma parábola. Que nos ajude ...

A FORMA DE FALAR A VERDADE

Certa vez, um Sultão sonhou que havia perdido todos os dentes. Ele acordou assustado e mandou chamar um sábio para que interpretasse o sonho.
- Que desgraça senhor! - exclamou o sábio - Cada dente caído representa a perda de um parente de vossa majestade!
Mas que insolente! Gritou o Sultão. - Como se atreve a dizer tal coisa?!
Então, ele chamou os guardas e mandou que lhe dessem 40 chicotadas. Mandou também que chamassem outro sábio para interpretar o mesmo sonho.
O outro sábio chegou e disse:
- Senhor, uma grande felicidade vos está reservada! O sonho indica que ireis viver mais que todos os vossos parentes!
A fisionomia do Sultão se iluminou, e ele mandou dar 40 moedas de ouro ao sábio. Quando este saía do palácio, um cortesão perguntou ao sábio:
- Como é possível? A interpretação que você fez foi a mesma do seu colega! No entanto, ele levou chicotadas e você moedas de ouro!
Respondeu, então, o sábio:
- Lembre-se sempre, amigo, tudo depende da maneira de dizer as coisas...

segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

Avisos Pouco Ortodoxos aos Paroquianos

AVISOS PAROQUIAIS

 
Avisos fixados nas portas de igrejas, todos eles reais, escritos com muito boa vontade e uma redação nem lá essas coisas...
 
 
AVISO AOS PAROQUIANOS
Para todos os que tenham filhos e não sabem, temos na paróquia uma área especial para crianças.
AVISO AOS PAROQUIANOS
Quinta-feira que vem, às cinco da tarde, haverá uma reunião do grupo de mães. Todas as mulheres que desejem formar parte das mães, devem dirigir-se ao escritório do padre.
AVISO AOS PAROQUIANOS
Interessados em participar do grupo de planejamento familiar e não ter mais filhos, procurem entrar pela porta de trás.
 
AVISO AOS PAROQUIANOS
Prezadas senhoras, não esqueçam a próxima venda para beneficência. É uma boa ocasião para se livrar das coisas inúteis que há na sua casa. Tragam os seus maridos!
AVISO AOS PAROQUIANOS
Na sexta-feira às sete, os meninos do Oratório farão uma representação da obra Hamlet, de Shakespeare, no salão da igreja. Toda a comunidade está convidada para tomar parte nesta tragédia.
 
AVISO AOS PAROQUIANOS
Assunto da catequese de hoje: Jesus caminha sobre as águas.
Assunto da catequese de amanhã:
Em busca de Jesus.
AVISO AOS PAROQUIANOS
O coro dos maiores de sessenta anos vai ser suspenso durante o verão, com o agradecimento de toda a paróquia.
AVISO AOS PAROQUIANOS
O mês de novembro finalizará com uma missa cantada por todos os defuntos da paróquia.
AVISO AOS PAROQUIANOS
O torneio de basquete entre as paróquias vai continuar com o jogo da próxima quarta-feira. Venham  nos aplaudir, vamos tentar derrotar o Cristo Rei!
AVISO AOS PAROQUIANOS
O preço do curso sobre Oração e Jejum não inclui a comida.
AVISO AOS PAROQUIANOS
Por favor, coloquem suas esmolas no envelope, junto com os defuntos que desejem que sejam lembrados.


terça-feira, 11 de janeiro de 2011

TEMA POLÊMICO

UM ASSUNTO POLÊMICO


Na Campanha das últimas eleições presidenciais tivemos uma recaída de conservadorismo e extremismo religioso, quando temas como aborto e liberdade religiosa foram “abortados” de uma discussão séria e deu início a uma mal disfarçada caça a abortistas e ateus. Dilma e Serra se dispuseram a até ir em igrejas, templos e sinagogas (não foram vistos em “terreiros”). Uma discussão anterior – a retirada de símbolos religiosos em repartições públicas – também foi varrida para debaixo do tapete.
Mas acabei de ler uma noticia em um blog e penso que, se for verdade, alguma coisa está movendo no governo da Presidente Dilma de forma bem inesperada.
Reparem no texto a idéia de “raízes históricas”

Dilma tira crucifixo do gabinete. Falta o resto do país


Por Leonardo Sakamoto - jornalista e doutor em Ciência Política e blogueiro
A Folha de S. Paulo traz a informação de que a presidente Dilma Rousseff, em sua primeira semana de trabalho, retirou o crucifixo da parede de seu gabinete e a bíblia de sua mesa.
Helena Chagas, ministra chefe da Secretaria de Comunicação Social, através de seu twitter, contradisse a informação divulgada pela Folha na tarde de hoje – depois deste post já ter sido publicado. Segundo ela, “a presidenta Dilma não tirou o crucifixo da parede de seu gabinete. A peça é do ex-presidente Lula e foi na mudança. Aliás, o crucifixo, que Lula ganhou de um amigo no início do governo, é de origem portuguesa”. Segundo Chagas, a bíblia continua lá, em uma sala contígua, em cima de uma mesa. A mesma informação está em nota da Secom.
A meu ver, a discussão sobre a propriedade do crucifixo é indiferente – se Dilma não repuser a peça. O que importa é a existência de símbolos religiosos no gabinete da Presidência da República e a sua retirada. A Secretaria de Comunicação Social afirma que não foi uma opção dela ter tirado, mas é uma decisão não recolocar outro no lugar. Do jeito que é o Brasil, não fazer nada, mantendo o espaço sem crucifixo, será um ato simbólico surpreendente.
Defendo fortemente que a retirada de símbolos religiosos seja realizado por todos os que ocupam cargos públicos no país. Dilma afirmou ser católica durante as eleições (ok, como disse na época, eu ainda aposto que ela e José Serra são, no limite, agnósticos – mas vá lá), mas não foi eleita para representar apenas cristãos e sim cidadãos de todas as crenças – inclusive os que acreditam em nada.
A questão da retirada de crucifixos, imagens e afins de repartições públicas gerou polêmicas ao longo da história a partir do momento em que um Estado se afirma laico (e não desde o lançamento do 3º Programa Nacional de Direitos Humanos, como querem fazer crer o pessoal do “não li, mas não gostei”). A França retirou os símbolos religiosos de sedes de governos, tribunais e escolas públicas no final do século 19. Nossa primeira Constituição republicana já contemplava a separação entre Estado e Igreja, mas estamos 120 anos atrasados em cumprir a promessas dos legisladores de então.
Em janeiro do ano passado, a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil lançou uma nota em que rejeitou “a criação de ‘mecanismos para impeder a ostentação de símbolos religiosos em estabelecimentos públicos da União’, pois considera que tal medida intolerante pretende ignorar nossas raízes históricas”.
Adoro quando alguém apela para as “raízes históricas” para discutir algo. Na época, lembrei que a escravidão está em nossas raízes históricas. A sociedade patriarcal está em nossas raízes históricas. A desigualdade social estrutural está em nossas raízes históricas. A exploração irracional dos recursos naturais está em nossas raízes históricas. A submissão da mulher como reprodutora e objeto sexual está em nossas raízes históricas. As decisões de Estado serem tomadas por meia dúzia de iluminados ignorando a participação popular estão em nossas raízes históricas. Lavar a honra com sangue está em nossas raízes históricas. Caçar índios no mato está em nossas raízes históricas. E isso para falar apenas de Brasil. Até porque queimar pessoas por intolerância de pensamento está nas raízes históricas de muita gente.
Quando o ser humano consegue caminhar a ponto de ver no horizonte a possibilidade de se livrar das amarras de suas “raízes históricas”, obtendo a liberdade para acreditar ou não, fazer ou não fazer, ser o que quiser ser, instituições importantes trazem justificativas fracas como essa, que fariam São Tomás de Aquino corar de vergonha intelectual. Por outro lado, o pessoal ultraconservador tem delírios de alegria.
Em 2009, o Ministério Público do Piauí solicitou a retirada de símbolos religiosos dos prédios públicos, atendendo a uma representação feita por entidades da sociedade civil e o presidente do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro mandou recolher os crucifixos que adornavam o prédio e converteu a capela católica em local de culto ecumênico. Algumas dessas ações têm vida curta, mas o que importa é que percebe-se um processo em defesa de um Estado que proteja e acolha todas as religiões, mas não seja atrelado a nenhuma delas.
É necessário que se retirem adornos e referência religiosas de edifícios públicos, como o Supremo Tribunal Federal e o Congresso Nacional. Não é porque o país tem uma maioria de católicos que espíritas, judeus, muçulmanos, enfim, minorias, precisem aceitar um símbolo cristão em um espaço do Estado. Além disso, as denominações cristãs são parte interessada em várias polêmicas judiciais – de pesquisas com célula-tronco ao direito ao aborto. Se esses elementos estão escancaradamente presentes nos locais onde são tomadas as decisões sem que ninguém se mexa para retirá-las, como garantir que as decisões serão isentas?
Como já disse aqui antes, o Estado deve garantir que todas as religiões tenham liberdade para exercer seus cultos, tenham seus templos, igrejas e terreiros e ostentem seus símbolos (tem uma turma dodói da cabeça que diz que isso significaria a retirada do Cristo Redentor do morro do Corcovado – afe… por Nossa Senhora!). Mas não pode se envolver, positiva ou negativamente, em nenhuma delas. Estado é Estado. Religião é religião.
Como é difícil uma democracia respeitar suas minorias

domingo, 9 de janeiro de 2011

Burnout

Uma palavra estranha para algo muito conhecido nosso, mas que naão sabemos nomear. Dois casos  que lidei recentemente: ambos jovens, na faixa dos 30 e poucos anos. Um começa a tremer, ficar com febre, vomitar, ter medo de morrer. Fica em pânico. O outro, antes de isto acontecer, larga o emprego público e começa a trabalhar em livraria. Sente-se melhor. Vou falar de um ambiente onde passamos boa parte da vida e do sofrimento que temos nele. O trabalho.

Transtorno psíquico "burn out" ataca desiludidos com o próprio trabalho

Perfeccionismo é fator de risco para esta doença insidiosa, que ataca a motivação das pessoas que trabalham muito, sem distinção de cargos hierárquicos. 
O "burn out", termo que em inglês designa a combustão completa, está incluído no rol dos transtornos mentais relacionados ao trabalho. Foi a terceira maior causa de afastamento de profissionais em 2009, segundo dados da Previdência Social. 
A síndrome é bem mais que "mero" estado de estresse. Não podem ser confundidos. 
Esse transtorno psíquico mescla esgotamento e desilusão. Pode ser desencadeado por uma exposição contínua a situações estressantes no trabalho, explica a psicóloga Ana Maria Rossi, presidente no Brasil da Isma (International Stress Management Association), entidade que pesquisa o "burn out". 
O professor Cláudio Rodrigues, afastado por causa da doença, disse sentir que o seu trabalho "não vale a pena" 
"A doença é gerada pela percepção de que o esforço colocado no trabalho é superior à recompensa. A pessoa se sente injustiçada e vai se alienando, apresentando sintomas como depressão, fobias e dores musculares." 
É a doença dos idealistas, diz Marilda Lipp, do Centro Psicológico de Controle do Stress e professora de psicologia da PUC-Campinas. 
"O 'burn out' é um desalento profundo, ataca pessoas dedicadas demais ao trabalho, que descobrem que nada daquilo pelo que se dedicaram valeu a pena." 
O estresse, compara Lipp, tem um componente biológico forte, ligado a situações em que o corpo tem de responder ao perigo. Portanto, positivo. Já o "burn out" é um estado emocional em que a pessoa não sente mais vontade de produzir. 
"Tem a ver com o valor depositado no trabalho", diz Lipp. "Quem apresenta exaustão emocional, não se envolve mais com o que faz e reduz as ambições, pode estar sofrendo do transtorno." 
O diagnóstico não é fácil: a apatia gerada pelo "burn out" pode sugerir depressão ou síndrome do pânico. 
Médicos, professores e policiais são grupos de risco, diz Duílio de Camargo, psiquiatra do trabalho ligado ao Hospital das Clínicas. 
O professor Cláudio Rodrigues, 43, entrou em combustão total por duas vezes. Começou como um estresse, que foi se acumulando ao longo de dez anos. 
Ele lecionava 13 horas por dia numa escola da zona sul de São Paulo. E se frustrava com salas lotadas e alunos desinteressados.
"Via um aluno meu entregando pizza junto com alguém que nunca tinha estudado. Eu me sentia impotente como professor". Deprimido, se manteve afastado das salas por dois anos. Em 2004, depois de receber acompanhamento psiquiátrico e tomar medicação, voltou. Em maio deste ano, recaiu. 
"Nada tinha mudado na escola, estrutura péssima. Eu me sentia responsável por estar levando todos os alunos a um caminho sem futuro." 
No meio de uma aula, o professor começou a suar e sentir o corpo ficar mole. Saiu e desmaiou na escada. Na semana seguinte, enquanto caminhava para o trabalho, desmaiou de novo. Está afastado desde então. 
"Sinto uma insatisfação por ver que o meu trabalho não vale a pena", desabafa. 
A vigia Lucimeire Stanco, 34, também passou um tempo licenciada por causa de "burn out". Em 2006, ela fazia a ronda noturna em um colégio da zona leste. Passava a noite só e por duas vezes teve que se esconder quando tentaram invadir o lugar. 
"Sentia desânimo porque não me tiravam daquela situação. Me sentia rejeitada, vítima." Ela se tratou e se readaptou. Hoje, só trabalha de dia, e acompanhada de outros vigias. 
Casos como esses são tratados com psicoterapia e antidepressivos mas, segundo Marilda Lipp, a medicação só combate os sintomas. 
"A pessoa precisa reavaliar o papel do trabalho em sua vida, aprender a dizer não quando não tem condições de executar algo e reconhecer o próprio valor, mesmo que outros não o façam." 
"Eu era infeliz e não sabia", afirma a empresária Amália Sina, 45. Hoje ela é a dona do próprio negócio, mas há quatro anos, era a vice-presidente, na América Latina, de uma multinacional e responsável pelas atividades da empresa em 22 países. 
"Dava aquela impressão de que o mundo girava em torno do trabalho, sempre com a faca na garganta", diz. Para a empresária, o apoio que teve da família e a prática de exercícios a ajudaram a suportar as pressões. Até ela deixar a função executiva. A empresária adotou a estratégia correta para prevenir um "burn out", segundo o psiquiatra Duílio de Camargo. "A pessoa chega a esse estado sem saber o que tem. Se não tiver acolhimento da família, o desconforto aumenta." 
Na visão de Eugenio Mussak, fisiologista e professor de gestão de pessoas, as providências para prevenir essa patologia do trabalho devem partir tanto do sujeito quanto da empresa. 
Segundo Mussak, todo mundo que trabalha bastante deve se permitir algumas atividades diárias cuja única finalidade seja o prazer, para compensar o clima estressante. E se o ambiente de trabalho puder criar um "estado de férias", melhor ainda. 
"Chefes compreensivos, que valorizam o esforço e respeitam os limites de seus subordinados criam um ambiente menos favorável ao "burn out'", diz o professor. 
Ele continua: "É preciso respeitar o limite entre o que é profissional e o que é pessoal, e a empresa deve estimular o trabalhador a respeitar esses limites também."




















quarta-feira, 5 de janeiro de 2011

QUOTIDIANAS



QUOTIDIANAS

Não, não se assustem meus inúmeros leitores. Não errei a palavra. Pode ser assim ou cotidianas. Como sou mais antigo – muito vivido, ou rodado – prefiro a palavra escrita com “q”. Remete-me ao latim “quotidie” e me faz lembrar meu Missal Quotidiano, na época do seminário. Missal era um livro onde tínhamos todas leituras das missas diárias do ano todo. Aqui, neste texto, quero falar de casos, histórias, fatos do dia a dia (agora, sem hífen) que vi, ouvi ou li.
O Aroma.
Diante do trailer do Xisburger, o mendigo se extasiava com o cheiro. O dia inteiro ele passava lá aspirando ao aroma. O dono um dia saiu do trailer com um prato e foi cobrar dele.
“Você está me devendo algo. Todos os dias você fica aspirando o cheiro do xisburger e não paga nada”
O mendigo não disse nada. Pegou umas moedas, soltou-as no prato, mas pegou-as de volta.
“Isto não é justo”, falou o dono.
“Acho que sim – retrucou o outro -. Sinto o cheiro de seu xisburger, mas não como. Você ouve o barulho das moedas, mas não as leva”.

Diante do Restaurante.
Era na região nobre da cidade. O sujeito pobre mas decentemente vestido arregalava os olhos e as narinas diante do restaurante sofisticado na hora do almoço. Um executivo – apesar da pressa – reparou no homem e como estava de bom humor, deu-lhe 50 reais e disse: Vá comer alguma coisa. Mal o homem deu as costas, o pobre subiu ao restaurante e pediu salmão com alcaparras ( mostrou o dinheiro primeiro, para evidenciar que podia pagar).
Poucos minutos depois, o executivo volta e se espana ao ver o pobre se regalando.
“Uê, te dei 50 reais e você vem comer salmão?”
“Olha – falou lambendo a boca para não perder nada – se não tenho dinheiro não posso comer salmão com alcaparras. Quando tenho, não posso; afinal quando é que posso comer salmão com alcaparras?”

Relógio
L. foi a Buenos Aires e se impressionou com a pobreza da população. Tendo comprado uns relógios lindos e baratos, resolveu dar o seu antigo para a mulher que pedia esmola ao lado do hotel. Ela pegou o relógio, olhou e jogou-o longe.
“Por que você fez isto?”
“Gosto de ver o tempo voar”.

No barbeiro
Enquanto esperava a sua vez, fumava. Com menos de 50 anos, tinha muito cabelo, mas branquíssimo. Quando terminou, perguntou o preço. 12 reais? Uai, aumentou? Pagou, mas emendou: você pode me emprestar 2 reais para eu comprar cigarros?
E o corte de cabelo acabou saindo por 10 reais.

Inauguração do shopping
A mãe, diante da insistência da filha – bonita, muito bonita, por sinal – acabou cedendo, colocou rapidamente um xale sobre os ombros e foram ver o shopping que abria as portas pela primeira vez naquele dia, na região leste da cidade. Andando para lá e para cá, percebeu que todos as olhavam. Ficou orgulhosa. Olhavam para a filha, tinha certeza. E assim foi pelos vários andares. Até que um segurança, negro, de olhos de jabuticaba e dentes alvíssimos, chegou perto dela, dando um sorriso, falou: a senhora podia guardar o soutien que está preso em seu xale? Apressada, não percebeu que, enganchado no xale, estava pendurado aquele soutien antigo, rombudo e de cor desbotada. Guardou-o na bolsa, mas continuou o passeio. Impávida.