Fazenda onde nasceu o blogueiro. Foto Luis Fernando Gomes

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sexta-feira, 31 de dezembro de 2010

Um Poema, despedindo-se de 2010

Sou um leitor esporádico de poesias. E de vez em quando tenho a sorte de cair-me nas mãos um livro de poemas que vale a pena ler. Foi asssim com Manoel Bandeira em Meus Poemas Preferidos, um outro de Cecília Meireles, ganho de presente; o naturalista - meu adjetivo - Manoel de Barros, quando frequentava a Biblioteca Infanto Juvenil para promover meu próprio livro de contos. E eis que de repente me deparo com "Os Dias", de Adriano Menezes (li-o de um fôlego só). Mineiro de São Vicente de Minas, pertinho de minha Andrelândia, que conheci pessoalmente numa manhã de curso sobre Inteligênica Emocional na Maxion. Hoje  mora em Ouro Preto, continua produzindodo, sendo influenciado pelo clima da cidade, como se pode ver neste poema a seguir. Foi publicado no Suplemento Literário do jornal "Minas Gerais", um marco cultural na imprensa mineira. Desejo que meus leitores degustem desta bela poesia de Adriano Menezes, neste - usando o chavão - apagar das luzes de 2010.


MUDA

Adriano Menezes




Depois ela disse que sentiu
uma coisa ruim
ao chegar a Ouro Preto .
Eu senti uma coisa ruim
quando ela disse. Queria
então mulher e cidade .
Eu devia desconfiar,
a escura nuvem sobre a casa
a perturbava sobremaneira,
e o passeio estreito, e as ladeiras,
talvez a falta de girafas
no Padre Faria ou
a desistência das flores
com talidomida que nos olhavam
míopes do jardim
que ainda não havia...
Se perdeu de minhas mãos.
A cidade continua comigo:
mofando livros,
avacalhando meus amores,
restituindo-me a asma.

sábado, 25 de dezembro de 2010

Reflexões para Final de Ano

PARA PENSAR


Em final de ano ou início de outro, sempre nos vêm à mente idéias, reflexões, resoluções e pensamentos de como viver melhor. Aqui estão alguns textos, bem diferentes uns dos outros, mas que servem para este objetivo.

IMPERMANÊNCIA.
“Na vida do homem o seu tempo não é senão um momento; seu ser, um fluxo incessante; seus sentidos, pálidos clarões; seu corpo, prisioneiro de vermes; sua alma, um inquieto torvelinho; seu destino, obscuro; e sua fama, duvidosa. Em resumo, tudo que ao corpo pertence são águas correntes; tudo que à alma pertence são sonhos e vapores; a vida é uma batalha, uma breve permanência numa terra estranha; e depois da reputação, o esquecimento. Onde, então, o homem encontra a força para guiar e conservar seus passos? Numa coisa, numa única coisa: o amor pelo conhecimento”
Marco Aurélio em “Meditações”



Vigie seus pensamentos
(eles se tornarão suas palavras).

Vigie suas palavras
(elas se tornarão seus atos).

Vigie seus atos
(eles se tornarão seus hábitos).

Vigie seus hábitos
(eles se tornarão seu caráter).

Vigie seu caráter
(ele se tornará seu destino).



E nesta vida materialista e consumista, não faltam essas boas idéias:

Ganhe Mais. Poupe. Evite Dívidas. Invista Corretamente. Tenha Casa Própria, e Plano de Saúde.  Faça algumas concessões. Eduque-se financeiramente.  Dinheiro é Meio e não Fim.

E completando:
Os bens que alegram os seres humanos: o riso claro, a boa palavra e as comidas saborosas.

QUE TODOS NÓS TENHAMOS ESTES BENS.

domingo, 19 de dezembro de 2010

Para rir, ou sorrir.

"RIR É O MELHOR REMÉDIO".

Adoro frases inteligentes, irônicas, piadas, anedotas e trocadilhos. Estes últimos, já os fiz em tempos idos. Revendo uns antigos cadernos meus, onde anotava tudo que me agradava, encontrei estas preciosidades. E, em final de ano, nada como dar um sorriso, uma risada ou no mínimo, um sorriso amarelo.. Se não me engano, o autor é Max Nunes, escritor de roteiros humorísticos da TV nos anos 60 do século passado.

O jóquei é um sujeito que ganha dinheiro nas costas dos outros.

Há pessoas que, por dinheiro, fazem qualquer coisa. Até trabalhar.

Há cachorros que latem fluentemente. Outros são galgos.

Garoto pobre: Moço, me dá um dinheiro.
Moço: Não. Se der, você não almoça.

Filho de rico é playboy. De pobre, é Office-boy.

Padre: Por que o senhor não vai à Missa?
Bêbado: Porque só o senhor bebe...

Radiologista é um sujeito tão mau, tão mau, que só quer ver a caveira dos outros.

No dia em que os padres puderem casar, eles serão a favor do divórcio.

O melhor momento para o divórcio é no namoro.

- Um animal raro no Brasil.
- Elefante.
- Mas não existe elefante no Brasil.
- Por isto é que é raro.

Se para conseguir emprego é preciso falar inglês, por que tem desempregado nos Estados Unidos?

Quem mata o pai e a mãe, o que é?  Órfão.

A mulher era tão feia que foi desenganada pelo cirurgião plástico.

- Você precisa aprender inglês.
- Por que ?
- A metade do mundo fala inglês.
- E não chega?

Os nossos filhos não são problemas. Problemas são os filhos que dizem que são nossos.

A vida das mulheres é curta. Não conheço nenhuma que tenha mais de 40 anos.

O uso da caxumba faz a boca torta.

Os biquínis são líquidos. Tomam a forma do corpo que os contem.

Ladrão com revolver: Me dá cem reais para eu salvar a vida de um inocente.
Vítima: Você não tem cara de inocente.
Ladrão: Não é a minha vida que está em perigo. É a sua.

O homem morreu e deixou mulher e quatro filhos. Tinha que deixar. Como é que ia levá-los?

Na mulher tudo é provisório. Até o permanente.




quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

Um Conto de Natal Pós Moderno

Já li muitos contos de Natal. Entre os que me marcaram está "Presente dos Reis Magos", escrito por William Sydney Porter. É a história de um casal muito pobre e que se amava muito (Deviam ser recém casados). Ela, linda, de longos cabelos louros. Ele, desempregado. E que tem um relógio de ouro. Mas sem pulseira. Ela, então, resolve vender os próprios cabelos para comprar uma linda pulseira para o marido. Ele, por seu lado, resolve vender o relógio e comprar uma tiara para os cabelos da mulher. Bem, a história não tem um final feliz. Resolvi, então escrever um conto de Natal com final feliz. E inesperado.



CONTO DE NATAL

Foram batidas mesmo na porta. E violentas. A campainha já não funcionava. A Cemig tinha cortado a energia por falta de pagamento. E ele abriu.
- Viemos desalojá-lo por falta de pagamento das prestações da Minha Casa Minha Vida.
- Mas – retrucou ele - , já fui até a Caixa e expliquei tudo. Estou desempregado e o seguro desemprego acabou. Era marceneiro (explicava ele, como se os outros estivessem interessados em sua história), mas a empresa me mandou embora. Os produtos chineses são os culpados. Houve demissão em massa.
- Não temos nada com isto. Viemos só fazer nosso trabalho. O senhor terá que sair.
- Mas – era sempre “mas” que ele usava, sempre explicando (não fora assim com Gabriel que veio lhe trazer a notícia do Menino?) – Mas – continuou – a minha mulher está esperando bebê, por estes dias. Maria ! – gritou ele para dentro do apartamento.
- Sim – respondeu uma menina de uns dezesseis anos, que se aproximou dos homens. Notava-se uma grande barriga.
- O quê???? É a sua mulher? Velho safado, corruptor de menores... Deixa o Estatuta da Criança e do Adolescente saber disto...
- Mas -  lá ia ele de novo explicando.
- Não tem nem “mas”, nem menos. Você, com essa idade, e essa jovem, quase menina ... E ainda com esta barba.... Aposto que é candidato do PT que perdeu as eleições. Ou no mínimo simpatizante...
- Nada disto – atrapalhou-se todo para explicar – Muito pelo contrário. Nem votei no PT. Aliás, votei na...
- Não precisa dizer – precaveram-se – Antes das eleições, até que daria para fazer alguma coisa, mas agora, você tem que sair fora..
- Não posso “sair para dentro”? – começava a ficar irônico
- Hein?
- Nada. E para onde eu vou? Como a minha mulher vai ter nenê?
- Procure o SUS. –
                                   Essas foram as últimas palavras que ele e a mulher ouviram antes de sair daquele minúsculo apartamento daquele distante e imenso bloco residencial inaugurado há tão pouco tempo. Arrumaram suas trouxinhas, o enxoval de bebê (não fizeram nem “chá de bebê”, por isto é que tinham poucas coisas), e se puseram a caminho do hospital a pé. Pois perdera o passe do ônibus e não tinha dinheiro.
- E a Carteira de Trabalho? – foi perguntando, de cara, a recepcionista, mal humorada, enquanto lixava as unhas e arrumava a caixinha onde estava escrito "Contribua para o Natal da Recepcionista".
- A firma ficou com ela.
- Então, sinto muito, não vai dar para interná-la.
- Desde quando precisam de Carteira de Trabalho no Sus ? – além de irônico, começava a ficar agressivo.-  Além do mais, ela vai ter o nenê – maneirou na fala. – O que eu faço?
- Danem-se
                                   Não era bem isto que estava pensando para a mulher, que até o momento se mantivera calada. Ela rompeu o silêncio: Vamos seguir a Estrela Guia e chegaremos a um lugar confortável.
- Ô, Maria, você não vê que com este céu todo sujo e poluído não vamos ver nenhuma estrela? Ainda mais Estrela Guia?
- E aquilo lá, o que é? – disse entre curiosa – própria de uma adolescente – e segura, característica de uma futura mamãe.
 - Oh, santa inocência – retrucou José, já um tanto impaciente. Seria a idade? – aquilo lá é uma árvore gigante de Natal.
                                   A noite demorava a cair, coisa comum nesta época do ano, por causa do horário de verão. Mas no horizonte já se avistavam grossas núvens escuras, um indicio claro de que viria uma chuva forte para molhar a terras e os corações empedernidos dos homens. Foi quando notaram um inusitado movimento na praça. Curiosos, dirigiram-se para lá. Era a Rede Globo filmando cenas de Natal. Ele se aproximou de um homem que estava dando ordens para os atores e figurantes e, apontando para a barriga da mulher, cochichou-lhe algo no ouvido. Este olhou para o velho de barba, a mocinha adolescente, quase menina, o barrigão e... abrindo a boca num largo sorriso, falou:
- Vamos filmar o nascimento de seu filho. Dar-lhe-emos um enxoval, uma caderneta de poupança, um quadro no Fantástico ou no Faustão, quem sabe até no SBT para ajudar o Silvio Santos,  estudo de graça até a Universidade, através do Prouni (se ele chegar até lá – pensou com seus botões – caso não morra antes, assassinado)
- Mas – disse desconfiado, não negando o sangue de seus antepassados mineiros – com tanta esmola o santo desconfia. Até o São José. O que terei de fazer?
- Uma coisinha simples. Você vai indicar um Programa de nossa TV.
- Espero que não seja o Horário Eleitoral Gratuito.
- Nada disto. Preste atenção.
                                   Nos dias seguintes, um senhor barbudo, de mãos grossas, fazia concorrência com o rapaz do Bom Bril e anunciava que:
- Depois que a Rede Globo entrara em minha vida com toda “Passione”, minha mulher fora para o “Araguaia”, onde teve o Menino e onde moramos numa linda casa, ganha no Avião do Faustão. E ... – completara por sua conta e risco: não adianta o Tititi, porque o filho é meu e não do Michael Jackson ou Mick Jagger.

segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

Diferenças entre as Pessoas

A gente sempre lê algum texto sobre as diferenças individuais, características de personalidade que explicam a razão de sucesso ou fracasso, de alegria ou tristeza. Recentemente caiu em minha caixa postal esta comparação entre pessoas Proativas e Reativas. Levando em conta possíveis exageros, acho que vale a pena passar os olhos e refletir sobre o que se lerá a seguir.


AS DIFERENÇAS ENTRE PESSOAS REATIVAS E PROATIVAS.

Pessoas re-ativas são aquelas que pensam e atuam dentro de padrões de causa e efeito.
Pessoas pró-ativas influenciam o meio, garantem harmonia, direcionam boas energias, iluminam tudo e a todos ao seu redor. Nunca se sentem vítimas das circunstancias. Escolhem com sabedoria as coisas que podem influir para uma mudança significativa que atenda a muitos
Quando um Proativo comete um erro, diz: “Enganei-me“, e aprende a lição.
Quando um Reativo comete um erro, diz: “A culpa não foi minha“, e responsabiliza terceiros
Um Proativo sabe que a adversidade é o melhor dos mestres.
 Um Reativo sente-se vítima perante uma adversidade
Um Proativo sabe que o resultado das coisas depende de si.
Um Reativo acha-se perseguido pelo azar.
Um Proativo trabalha muito e arranja sempre tempo para si próprio.
Um  Reativo está sempre "muito ocupado" e não tem tempo sequer para os seus parentes.
Um Proativo compromete-se, dá a sua palavra e cumpre.
 Um Reativo faz promessas e quando falha só sabe se justificar
Um Proativo diz: "Sou bom, mas vou ser melhor ainda".
  Um Reativo diz: "Não sou tão mau assim; há muitos piores que eu"
Um Proativo ouve , compreende e responde.
Um Reativo não espera que chegue a sua vez de falar
Um Proativo respeita os que sabem mais e procura aprender algo com eles.
Um Reativo resiste a todos os que sabem mais e apenas se fixa nos seus defeitos.
Um Proativo sente-se responsável por algo mais que o seu trabalho.
Um Reativo não se compromete nunca e diz sempre: “Faço o meu trabalho e é quanto basta”.
Um Proativo diz: “Deve haver uma melhor forma de o fazer. . .”
    Um Reativo diz: “Sempre fizemos assim.Não há outra maneira.
Um Proativo é PARTE DA SOLUÇÃO.
Um Reativo é PARTE DO PROBLEMA.
Um Proativo consegue  "ver a parede na sua totalidade".
Um Reativo fixa-se  "no azulejo que lhe cabe colocar


terça-feira, 7 de dezembro de 2010

Minha, Minha Minas Gerais

"Minas são várias", já disse um poeta. Nascer em Minas é um privilégio. Conhecer Minas é possíel para todos os viventes. Morando no Oeste Paulista - a cidade coincidentemente fundada por um mineiro - , tive uma grande saudade de minha terra, e, aproveitando a nostalgia, escrevi esta crônica.

Minha, minha
Minas Gerais


Há quanto tempo queria falar de ti e não pude! Falar de tuas montanhas, de tuas serras, do teu ouro, do teu minério e do teu ferro, dos teus caminhos tortuosos, mas que nos levam sempre a ti, refúgio dos bandeirantes exaustos, dos romeiros cansados dos emboabas pobres, dos negros luzidios e fugidos. Quero ir ver teus profetas em Congonhas do Campo e conferenciar com eles: ser levado pelas mãos atrofiadas do Aleijadinho, que esculpiram as maravilhas mineiras e as primeiras obras genuinamente brasileiras. Dar o braço ao Mestre Ataíde, pintor renomado, cujos tons vermelhos em suas pinturas ninguém até hoje conseguiu reproduzir, e rir das caras dos seus anjos barrocos, feitos à imagem e semelhança de seus filhos mulatos e bastardos. Quero andar pela antiga Vila Rica, hoje Ouro Preto, ver o
fogo comendo o Morro da Queimada, participar da reunião dos inconfidentes, falar com José Joaquim da Silva Xavier, o líder, discutir com os poetas inconfidentes e ver as suas musas; ir até Mariana, andar pelas ruas tortuosas e tropeçar em suas pedras. Procurar o Caraça, embrenhando-me por mato e trilha virgens, e ver o Seminário, de onde saíram  mineiros tão ilustres. Quero entrar em tuas minas, enxergar na escuridão delas os duplamente mineiros. Pelas asas, de Santos Dumont, que hoje é cidade, quero passear pelas montanhas, sobrevoar seus cumes, ir ao encontro dos morros de 
Saramenha. Visitar a Manchester Mineira (Juiz de Fora), com sua famosa rua Halfeld e seu Museu Mariano  Procópio. Viver ao pé do morro que dá de frente para Governador Valadares. Subir até Montes Claros e, sentir o calor que vem do norte. Passar pelo frio do sul de tuas fronteiras. Ir até os teus zebus no Triângulo. Palmilhar Belo Horizonte, na beleza de seu traçado de cidade  programada.  Viajar pela sacolejante Rede Mineira de Viação, que teimavam em chamar de "Resto de Material Velho" ou "Ruim Mas Vai", passando por cidades bucólicas: Minduri, São Vicente de Minas, Carrancas, Andrelândia, Arantina, Quatis. Atravessar teus córregos e viadutos. Ouvir as serestas em Diamantina e sentir a sensualidade de Xica da Silva. Falar com os personagens de Guimarães Rosa, em Cordisburgo. Fazer o footing na praça mais bonita do interior, em Curvelo, centro  geográfico de tuas terras. Penetrar tuas grutas de Maquine e da Lapinha, e me deparar com Lund discursando sobre o homem pré-histórico. Fazer estátuas de pedras sabão. Tocar nos teus santos barrocos e de "pau oco”; extasiar- me com as melodias de pássaros e bichos na serra do Cipó. Acompanhar Mário Palmério no caminho para o Oeste, no Chapadão do Bugre. Olhar e admirar teus bancos e prósperos banqueiros. Ouvir o Visconde de Barbacena na cidade de seu nome. Ir até Barroso. Perder-me nas ruas tortas e curtas de São João Del-Rei e rezar nas tuas igrejas de ouro. Banhar-me nas águas medicinais de Poços de Caldas e na lama de Araxá, ouvindo os conselhos de Dona Beja. Comer o queijo do Serro. Defrontar-me com o Rio das Mortes, o Rio das
Velhas. Subir o São Francisco e aportar-me em Pirapora. Mergulhar em tuas histórias, de que estão cheias Sabará, Capelinha, Tiradentes, Minas Novas. Sofrer com o calor das usinas de Monlevade e Itabira. Conversar respeitosamente com teus presidentes, governadores e políticos.
Ouvir os conselhos de Benedito Valadares e de Alkimin sobre a difícil arte da política mineira: de não ser nem contra e nem a favor, muito antes pelo contrário. Admirar os Dragões da Inconfidência. Saborear os quitutes de tua cozinha: teu tutu com lingüiça, torresmo e couve verdinha e comer tuas broinhas e pão de queijo. Sentir o cheiro de tuas Casas Grandes e Senzalas. Ver e lamentar os sacrifícios de teus escravos. Chorar as violências cometidas contra ti na Ferrovia dos mil dias, quando rasgaram teu ventre, explodiram tuas entranhas, despedaçaram teus membros. Deixar que penetre em mim o canto dos carros de bois rangendo em  Ibertioga. Subir a Serra da Piedade e rezar diante da imagem da Virgem. Chegar a Três Corações, famosa
pelo "tricordiano" que tínhamos de aprender na escola e pelo garoto-propaganda da Pepsi. Sentir a poluição do Distrito Industrial e o cheiro fétido do Arruda na época das inundações. Ouvir, envaidecido, os poemas de teu poeta maior, Drummond, sonhando sob o teu céu escuro e pontilhado de algumas teimosas estrelas. Ver as plantações de café de Ibiá. Andar perigosamente pela região de Mantena onde se reza: "Em nome do Pai, do Filho e de Minas Gerais" (para não dizer Espírito Santo). Falar com o teu "uai". Ver seus grupos folclóricos como o Aruanda. Jubilar-me no Dia dos Reis, dançando e cantando com a folia. Presenciar tuas lutas contra os invasores. Sepultar teus filhos mortos e insepultos. Sentir o progresso no teu silêncio. Ler teus escritores, para os quais foram criados os "Concursos de Contos", e rir com teus humoristas. Cantar tua música triste e dolente. Ouvir o Coral Renascentista entoando "Peixe Vivo". Passar pela Zona da Mata, Vir até o sul, ir ao Triângulo, ao norte e ao leste. Para qualquer lado que me vire te vejo sempre, Minas Gerais, que procura caminho ou para o mar ou para a liberdade. O mar não o conseguirás, talvez; mas a liberdade tu a tens no coração de teus filhos.















quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

Sobre Família

Começa dezembro. Chuva, calor, as festas de natal, as caixinhas que pululam em todo o comércio, o gari, o porteiro, pessoas que nos cumprimentam desejando um Feliz Natal  e o famoso encontro da família. Mas pode ter confusão. O texto a seguir, recebi-o via email. Achei interessante para ajudar a refletir sobre nós mesmos e sobre todos os componentes da família.



Família é prato difícil de preparar


 (de "O Arroz de Palma,de Francisco Azevedo)
Família é prato difícil de preparar. São muitos ingredientes. Reunir todos é um problema, principalmente no Natal e no Ano Novo. Pouco importa a qualidade da panela, fazer uma família exige coragem, devoção e paciência. Não é para qualquer um. Os truques, os segredos, o imprevisível. Às vezes, dá até vontade de desistir. Preferimos o desconforto do estômago vazio. Vêm a preguiça, a conhecida falta de imaginação sobre o que se vai comer e aquele fastio. Mas a vida, (azeitona verde no palito) sempre arruma um jeito de nos entusiasmar e abrir o apetite. O tempo põe a mesa, determina o número de cadeiras e os lugares. Súbito, feito milagre, a família está servida. Fulana sai a mais inteligente de todas. Beltrano veio no ponto, é o mais brincalhão e comunicativo, unanimidade. Sicrano, quem diria? Solou, endureceu, murchou antes do tempo. Este é o mais gordo, generoso, farto, abundante. Aquele o que surpreendeu e foi morar longe. Ela, a mais apaixonada. A outra, a mais consistente.
E você?  É, você mesmo, que me lê os pensamentos e veio aqui me fazer companhia. Como saiu no álbum de retratos? O mais prático e objetivo? A mais sentimental? A mais prestativa? O que nunca quis nada com o trabalho? Seja quem for, não fique aí reclamando do gênero e do grau comparativo. Reúna essas tantas afinidades e antipatias que fazem parte da sua vida. Não há pressa. Eu espero. Já estão aí? Todas? Ótimo. Agora, ponha o avental, pegue a tábua, a faca mais afiada e tome alguns cuidados. Logo, logo, você também estará cheirando a alho e cebola. Não se envergonhe de chorar. Família é prato que emociona. E a gente chora mesmo. De alegria, de raiva ou de tristeza.

Primeiro cuidado: temperos exóticos alteram o sabor do parentesco. Mas, se misturadas com delicadeza, estas especiarias, que quase sempre vêm da África e do Oriente e nos parecem estranhas ao paladar tornam a família muito mais colorida, interessante e saborosa.
Atenção também com os pesos e as medidas. Uma pitada a mais disso ou daquilo e, pronto, é um verdadeiro desastre. Família é prato extremamente sensível. Tudo tem de ser muito bem pesado, muito bem medido. Outra coisa: é preciso ter boa mão, ser profissional. Principalmente na hora que se decide meter a colher. Saber meter a colher é verdadeira arte. Uma grande amiga minha desandou a receita de toda a família, só porque meteu a colher na hora errada. 
O pior é que ainda tem gente que acredita na receita da família perfeita. Bobagem. Tudo ilusão. Não existe Família à Oswaldo Aranha; Família à Rossini, Família à Belle Meuni; Família ao Molho Pardo,  em que o sangue é fundamental para o preparo da iguaria. Família é afinidade, é a  Moda da Casa. E cada casa gosta de preparar a família a seu jeito.
Há famílias doces. Outras, meio amargas. Outras apimentadíssimas. Há também as que não têm gosto de nada, seriam assim um tipo de Família Dieta, que você suporta só para manter a linha.  Seja como for, família é prato que deve ser servido sempre quente, quentíssimo. Uma família fria é insuportável, impossível de se engolir.

Enfim, receita de família não se copia, se inventa. A gente vai aprendendo aos poucos, improvisando e transmitindo o que sabe no dia a dia. A gente cata um registro ali, de alguém que sabe e conta, e outro aqui, que ficou no pedaço de papel. Muita coisa se perde na lembrança. Principalmente na cabeça de um velho já meio caduco como eu. O que este veterano cozinheiro pode dizer é que, por mais sem graça, por pior que seja o paladar, família é prato que você tem que experimentar e comer. Se puder saborear, saboreie. Não ligue para etiquetas. Passe o pão naquele molhinho que ficou na porcelana, na louça, no alumínio ou no barro. Aproveite ao máximo. Família é prato que, quando se acaba, nunca mais se repete.